KAMEN RIDER MATSURI 02

– A menina não sabe jogar! Tirem-lhe a cabeça de uma vez! Disse a rainha com o tom de voz ameaçador.


– Majestade, a culpa não é minha. Os ouriços-cacheiros estão sempre a fugir e os flamingos sempre a voarem! Explicou à garota a majestade que parecia não entendê-la.


Mas antes que Alice pudesse dizer mais alguma coisa, já se encontrava num tribunal rodeada do rei e da rainha de copas, juntamente com todos os habitantes do reino.


Alice levantou-se para se defender, mas de repente começou a crescer e a crescer, e tudo começou a girar à sua volta, tornando-se numa enorme confusão.


Ela abriu os olhos e se viu surpreendida! Ela estava novamente no jardim ao lado de sua irmã, e que está lhe oferecia uma xícara de chá...


A mulher de cabelos loiros usando um jaleco branco, sentada ao lado de uma cama de hospital fecha o livro de contos de fadas e suspira antes de falar. – Enquanto a você... Quando pretende abrir os olhos também?


O misterioso homem encoberto pelas sombras permanece em silêncio por alguns segundos após ouvir o pedido de Sakurako, mas logo em seguida se levanta de costas e se vira para a mulher que usava um blazer vermelho.



- Kagawa! Kagawa! Onde se meteu aquele idiota?! Gritava o homem passando a caminhar sem rumo pela sala escura.


As luzes do local são acesas e um rapaz de terno branco entra na sala correndo. Cumprimenta a mulher sentada no chão e rapidamente se dirige ao homem que gritava.


– Chamou Sr. Serizawa?


O homem sem camisa que tinha uma enorme tatuagem da família Serizawa nas costas coloca as mãos para trás e encarando Kagawa, responde ironicamente a pergunta do rapaz.


- Nãoooo ~ Eu só gosto de gritar seu nome tarde da noite. “Kagawa!” “Kagawa!” viu só?  Me sinto ótimo.


O rapaz de terno branco coloca a mão no queixo, encara Serizawa por alguns segundos e então decide falar. – É mesmo senhor?


- NÃO! SEU IDIOTA! E O QUE TE DISSE SOBRE O ESCURO?! EU ODEIO O ESCURO!!! O homem irritado continuava a gritar com o rapaz que apenas piscava os olhos com força a cada grito.


Sakurako que observava a curiosa cena de longe sentada no chão de madeira do local, revira os olhos e decide se levantar e caminhar na direção dos dois.


- Com licença... Sr. Serizawa? A elegante mulher tentava falar com o homem que a ignorava enquanto gritava com seu empregado.


Após alguns segundos Serizawa vira o rosto para Sakurako e arregala os olhos, e com um sorriso falso no rosto se vira novamente para Kagawa.


– Kagawa! Não está vendo que temos visita aqui?! O homem estendia a palma da mão para mostrar a mulher a Kagawa. - Traga um pouco de chá para a moça. Rápido!


- Sim, sim senhor. O rapaz se curva novamente para a moça e sai correndo da sala acompanhado pelos olhos de Sakurako e Serizawa.


O homem respira fundo e tirando suor imaginário da testa com a palma da mão, caminha em direção a um cabide no canto esquerdo da sala onde pega uma camisa preta com uma estampa branca de águia. Enquanto vestia, o homem falava.


- Kai Saburo né... Não é o garoto de Ikeda? Serizawa abotoava a camisa devagar botão por botão com um olhar concentrado.


A mulher levanta uma de suas sobrancelhas se mostrando surpresa, então ajeita a bolsa no ombro e dá dois passos na direção de Serizawa. – Vejo que o senhor já o conhece. Serei breve então. Aquele moleque teve a ousadia de invadir a minha empresa e me ameaçar! Quero que ele saiba quem é Sakurako Enoshima.


O homem se vira para Sakurako e sorri. – Srta. Enoshima. Aprecio muito a sua pessoa, sabe disso. Seu pai foi um dos melhores homens que eu já conheci e você sempre honrou o bom nome da família Enoshima. Agora quer mesmo jogar o legado de seu pai fora, sujando as mãos com o sangue de ummm... moleque?


A mulher revira os olhos e respira fundo antes de começar a falar. – Esse “moleque” surrou dez... Sakurako trinca os dentes e continua. - Digo, nove dos meus melhores homens com uma cadeira debaixo do braço! E mais... Sakurako olha para o lado antes de prosseguir. - Ele teve a audácia de derramar o meu precioso chá... na minha cabeça. Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida.


                    Sakurako-chan. Você parece ter amnesia, então vou refrescar a sua memória um pouco.


- Seu chá, senhorita. Kagawa estava parado ao lado de Sakurako com uma bandeja com duas xícaras de chá, a mulher ao perceber pega uma das xícaras e agradece com a cabeça ao rapaz.


O homem, já vestido, caminha na direção da mulher e pegando-a pelo ombro, passam os dois a caminharem juntos pela sala. – Como bem sabe Srta. Enoshima, Chisai é dividida em doze distritos comandados por cinco grandes famílias da Yakuza. De todos esses distritos Ikeda tem a maior parte deles.


A mulher dá um gole no chá e em seguida questiona Serizawa. – E o senhor acha isso justo?


- Se eu acho justo? O homem solta o ombro de Sakurako e caminha alguns passos na frente da moça antes de se virar. - A vida é justa Srta. Enoshima! As pessoas é que são ingratas por não perceberem isso.


O homem chama Kagawa que segurava a bandeja de chá para perto, e retira uma xícara. - E é por aceitar as coisas do jeito que são, que vivo está vida de luxo e posso contratar funcionários competentes como Kagawa. Serizawa bebe um gole de chá e arregala os olhos. Em seguida, cospe o líquido na cara do rapaz.


- QUE LAVAGEM É ESSA?! QUER QUE A MOÇA PENSE QUE SOMOS PORCOS?! Serizawa joga a xícara na bandeja que o rapaz segurava fazendo-o se atrapalhar e quase derrubar tudo. – Esqueça esse chá e traga o meu casaco... Espere! O homem bate a mão na testa como se lembra-se de algo. – Ah, e me traga o meu horóscopo também.


- Sim, sim senhor. O rapaz deixa a bandeja no chão da sala e vai até o cabide onde pega o casaco branco do homem.


A mulher inconformada continuava a falar. - Mas Sr. Serizawa... O senhor também é um Yakuza, como ele! Deve haver algo que o senhor possa fazer. A mulher gesticulava com as mãos enquanto falava.


O homem abre os braços para que Kagawa o vestisse com o casaco. Ajeita as mangas e então decide falar. - Kai Saburo um Yakuza, né? O homem tinha um ar de riso na voz. – Aquele garoto não seria um Yakuza nem se fosse o dono do Japão.


- Hehehehe... Kagawa ria das palavras do homem, mas para logo em seguida quando o mesmo o olha torto. O homem ajeita o casaco e mais uma vez pega a mulher pelo ombro e caminham pela sala acompanhados por Kagawa.


– Kai Saburo é só um moleque que aquele velho usa prá fazer... é... como é mesmo a palavra? É... – Caridade. Senhor. Completa Kagawa para o homem que continua. – Caridade! Isso mesmo. Dizem que ele ainda se sente culpado por não ter conseguido salvar a mãe do garoto ou algo assim... Também não me importa saber o que se passa na cabeça daquele velho sádico... Ah! Kagawa, meu horóscopo.


O rapaz tateia os bolsos do terno e retira um smartphone e em seguida começa a ler o horóscopo de Serizawa. – “Libra: Nesse período, não se arrisque em investimentos inseguros. O melhor é não mudar nada nessa fase.”


O homem estende a mão para frente e com um sorriso no rosto solta novamente o ombro de Sakurako e caminha alguns passos antes de se virar para a moça.


– Magnífico! Era tudo o que eu queria saber. O homem tinha um sorriso de orelha a orelha no rosto. - Se já estiver tudo resolvido por aqui, receio ter que me retirar.


– Mas Sr. Serizawa eu não sei mais a quem recorrer! Dizia a mulher franzindo a sobrancelha para o homem que já estava se retirando.


O homem mais uma vez caminha na direção da mulher e já na frente dela coloca as duas mãos em seus ombros, respira fundo e com uma voz serena fala. – Então faça como eu Srta. Enoshima. Quando não souber a quem recorrer, recorra às estrelas. Elas têm a resposta!


A mulher levanta uma de suas sobrancelhas enquanto observa o homem se retirando e apontando para o teto. – Lembre-se Srta. Enoshima. Recorra às estrelas.... O homem sai da sala deixando Sakurako sozinha com Kagawa.


Kagawa, meio sem jeito, ajeita o colarinho e em seguida questiona a mulher que permanecia parada olhando para a saída. - Posso fazer mais alguma coisa pela senhorita? A mulher respira fundo, ajeita a bolsa no ombro e então olhando para Kagawa fala.


– Sim... Peça demissão!


O rapaz arregala os olhos para a elegante mulher que prossegue. – E se ainda precisar de trabalho quando sair, procure-me. Sakurako coloca a mão na bolsa e retira um cartão que entrega ao rapaz, e em seguida ergue a cabeça e vai embora.



Já era tarde da noite quando Kai Saburo e o Professor Sakaki chegam de carro no estacionamento do apartamento. Kai sobe as escadas correndo e apressando o professor que vinha logo atrás segurando a sua preciosa maleta contra o peito. Saburo abre a porta de seu apartamento e ambos rapidamente entram.




- A cozinha é ali. Tem gelo no freezer pro seu rosto lá. O banheiro é ali, mas a água só tá quente pela manhã. E acho que a TV ainda funciona... Kai apontava para os lugares enquanto o professor se curvava agradecendo meio sem jeito.


- Eu agradeço Sr.Saburo, mas não pretendo ficar por muito tempo... Sakaki falava enquanto observava Kai tirando o terno e os sapatos e os atirando no chão de qualquer jeito.


O professor tira os sapatos, coloca a maleta no chão e caminha até a cozinha que era ligada com a sala, separada apenas por um balcão. Chegando a pia o homem pega um copo, liga a torneira e bebe água. Ainda segurando o copo ele caminha até o balcão onde ver Saburo sentado no chão de frente para a TV.


- O que tem nela, professor?


Kai, que apoiava o corpo sentado com os braços para trás, vira a cabeça para olhar para o homem parado no balcão e o questiona novamente. – Na maleta. O que tem nela? A expressão séria no rosto do rapaz e o tom em sua voz fazem Sakaki olhar quase que por reflexo para a maleta e para a porta antes de voltar a olhar para Saburo.


Depois de alguns segundos Kai sorri e então prossegue. – Relaxa professor, não precisa responder se não quiser. Só fiquei curioso. Saburo vira a cabeça novamente para TV e continua. – Os caras de antes pareciam muito interessados nela...


                          - Parece que o destino não estava mesmo do seu lado.


O professor fecha os olhos e suspira. – Como eu disse antes Sr. Saburo, eu não pretendo abusar de sua hospitalidade. Tenho uma vida lá fora e em breve voltarei para ela.


- Bem, acho que vai ser meio difícil professor. Sakaki franzi a testa confuso depois de ouvir o que Kai tinha acabado de dizer.


- Na TV tá falando que o senhor bateu as botas. Saburo apontava para a TV quando escuta o barulho do copo de vidro que o homem segurava cair no chão da cozinha. 


O homem corre e empurra Kai para o lado e pega o controle no chão, tateia procurando o botão de volume e aumenta o som da TV.


               Voltamos a falar sobre o incidente no Complexo de pesquisa Ishinomori na Antártida, que vitimou o renomado Professor Sakaki (55) e sua assistente Haruka Saruhashi (24).


Sakaki balançava a cabeça negativamente enquanto assistia o noticiário observado pelos olhos curiosos de Kai, que coça a cabeça e se ajeita ao lado do professor para assistir também.


               O incêndio que segundo a perícia começou devido a um curto circuito na sala de máquinas acabou gerando diversas explosões por todo o complexo. Toda a equipe de Sakaki foi resgatada duas horas depois no heliporto do complexo, mas infelizmente tanto o professor quanto sua assistente não conseguiram sair a tempo e acabaram morrendo carbonizados no local.


Tanto o professor quanto a sua assistente... Carbonizados no local. Morrendo. Carbonizados.


Saburo vira o rosto devagar para o professor sentado ao seu lado no chão e se depara com uma expressão atônita do homem. – Professor Sakaki, o senhor tá bem.... Antes mesmo de Kai terminar de falar ele é interrompido pelo professor. – Não! Isso é impossível...


O homem que olhava pra baixo prossegue. – Eu e a Srta. Saruhashi estávamos no heliporto também, eles me viram pegar o carro de neve e sair com ela para pedir ajuda na base mais próxima...  Tem que ser um engano. O professor coloca a mão na boca sem querer acreditar.


                Toda a equipe lamentou a morte precoce do brilhante professor Sakaki. – O professor Sakaki era um amigo muito precioso, sua genialidade e sua dedicação serão para sempre lembradas. Ainda não acredito que ele se foi sem completar a sua pesquisa. Disse o Doutor Marcos Ribeiro que acompanhou Sakaki desde o início de sua pesquisa.


- Não. Não! Nós conseguimos. Foi um sucesso! Você viu a apresentação da plateia. Diga a verdade! Você estava no heliporto também. Você me viu lá! O professor gritava apontando para TV como se o homem na imagem pudesse ouvi-lo.


- Tá zoando!? O senhor conseguiu mesmo? De verdade?! Questiona Kai ao professor com uma expressão de surpresa no rosto.


– Você! O homem aponta para Kai com um olhar acusatório. – Aqueles movimentos no estacionamento não eram de um cara comum.  Não mesmo! Kai arregala os olhos com as palavras repentinas de Sakaki que continua. – Não pense que eu acreditei naquele cartão fajuto! O homem respira fundo e prossegue. - Quem realmente é você, Sr.Saburo? E é melhor me dizer a verdade.


Saburo sorrir para o homem, coça a cabeça e em seguida começa a falar.


30 SEGUNDOS DEPOIS


Sakaki descia as escadas do apartamento segurando a maleta contra o peito, seguido por Kai que vinha logo atrás. – Professor, o senhor não tá pensando direito. É mais seguro ficar aqui agora. Kai falava enquanto seguia o professor pelas escadas.


- Ou o que? Vai me atirar no rio com tijolos amarrados nos meus pés? Não é isso que Yakuzas fazem? Kai abre um sorriso e continua seguindo o professor. 


– Isso é história professor, nós não fazemos isso... Saburo pensa um pouco e se corrige. – Nós não fazemos mais isso.


- Tá um gelo aqui fora professor, prá onde o senhor vai assim? Questiona Kai a Sakaki que já estava chegando ao estacionamento.


Sakaki para e se vira para Saburo. – Eu não sei, tá bem?! Na polícia, imprensa... Alguém deve querer me ouvir. O homem coça a cabeça e caminha de um lado para o outro no estacionamento do local.


Kai abre os braços e questiona ironicamente o confuso professor. – Ok. E o que o senhor vai dizer quando chegar lá? "Olá, meu nome é Sakaki. Descobri a cura para o câncer, mas meu laboratório explodiu. Ah! E a propósito, eu tô morto!” Eles vão jogá-lo no hospício antes mesmo do senhor terminar de falar, isso se os seus amigos de terno cinza não o pegarem primeiro.


O homem coloca uma mão sobre a boca após ouvir as palavras duras mais realistas de Saburo, retira a mão e em seguida caminha em direção a Kai, e com uma expressão confusa no rosto o questiona. – Por que, Sr. Saburo? Diga-me. Porque um Yakuza como o senhor iria querer ajudar um velho perdido como eu?  


Saburo cruza os braços e esfrega ambos antes de falar. – Tudo bem, dá um segundo. Kai caminha em direção ao seu carro, abre a porta e pega a revista que Rena havia lhe dado na noite anterior. - Por isto! Kai estende a revista para o professor que reluta um pouco, mas se aproxima e pega da mão do rapaz.


- Ganhei de uma amiga ontem. Saburo aponta para a revista que o professor segurava nas mãos. - Ela disse que me traria inspiração. Prá ser alguém melhor na vida ou algo assim. O homem folheava a revista enquanto ouvia o rapaz falar, até que pára na página de sua foto.


- Eu a folheava como o senhor tá fazendo aí, quando o vi mais cedo no aeroporto. Prá algumas pessoas pode ser apenas coincidência ou destino, mas pra mim foi um pedido de socorro. Kai aponta para Sakaki antes de continuar. - Seu pedido de socorro, professor. O homem olha para Kai que prossegue. – E talvez a chance desse “Yakuza malvadão” que o senhor acha que eu sou, fazer a diferença...


O professor fecha a revista e a estende de volta para Kai. – Escute Sr.Saburo, sobre o que eu disse agora a pouco, eu não... Antes mesmo do homem terminar, Saburo o interrompe.


– Não ~, tá tranquilo. Pode continuar me olhando como se eu tivesse um cara desmaiado no meu porta malas. Já tô acostumado a ser julgado assim. Saburo cruza os braços e vira-se de lado.


O homem coça a cabeça meio sem jeito e começa a falar. - Bem, se não se importar, posso ficar um pouco mais... – Não me importo não! Responde Kai sem pensar duas vezes.


Saburo pega o professor pelo ombro e começa a andar com ele até as escadas, mas antes mesmo de subir ele para, como se tivesse lembrado de algo, e volta até o carro. Lá ele entra no veículo, liga o aquecedor e com um sorriso aliviado no rosto sai e volta para as escadas onde Sakaki o esperava. - A propósito professor, o senhor bebe? Conheço um lugar ótimo.



Um copo vazio é colocado sobre o balcão pelas mãos de Hayato Mori que tinha um certo “delay” na voz ao falar. – Pode encher! ~



- Não já chega por hoje, Hayato? O Sr.Matsuri que estava atrás do balcão pega a garrafa e enche devagar o copo do rapaz enquanto prossegue. – Quero dizer, é raro você beber tanto assim.



O rapaz sorri debochadamente e em seguida ajeita os óculos com o indicador. - O senhor claramente não entendeu ainda, não é? ~ 


O homem pensa um pouco e então se aproxima de Hayato, e com a mão aberta de um lado do rosto prossegue falando baixo. – Me diga. Conseguiu uma promoção ou o quê?


- MELHOR!!! Grita Hayato pulando da cadeira do bar e pegando o Sr.Matsuri de surpresa. Ele fica em pé por alguns segundos e em seguida volta a se sentar.


– É só que, aquele maldito do Kai Saburo não tá aqui! Ele não veio hoje. Não veio! Hayato balançava a cabeça com um sorriso no rosto enquanto falava. - Por isso vou beber a noite toda prá comemorar ~


- Agora que você falou... Deve ter acontecido alguma coisa mesmo, ele vem toda noite. O homem pega um copo vazio qualquer em cima do balcão, e com um olhar distraído passa a limpá-lo com uma toalha.


- Não é maravilhoso?! O bar todinho só pra mim, sem nenhum Yakuza pra me encher ~ Hayato deita a cabeça no balcão e encarando o copo cochicha baixinho. – Até parece um sonho...


A porta do bar se abre com violência fazendo a bebida no copo de Hayato respingar em seus óculos e pegando todos ali de surpresa. A figura misteriosa para na porta projetando sua enorme sombra no chão do bar e então caminha em direção ao balcão, puxa o banco e se senta ao lado de Hayato.


O rapaz tira os óculos, limpa-os usando a própria camisa para em seguida colocá-los e olhar de quem se tratava. - Se-Se-Se...


- SENHOR IKEDA!!!



O yakuza se ajeita na cadeira, coloca um dos braços sobre o balcão e passa a encarar o Sr. Matsuri que o encara de volta de imediato. Ambos passam a se encararem por alguns segundos, mas logo Ikeda abre um sorriso e o dono do bar retribui com outro.


- Vejo que continua afiado como sempre, Akira. O yakuza tinha um olhar nostálgico que era compartilhado pelo dono bar. – Acho que posso dizer o mesmo, Ikeda.


Hayato olha para o yakuza, vira o rosto e se encolhe na cadeira. – Tava bom demais pra ser verdade ~ O rapaz então se ajeita na cadeira, pega o copo cheio na sua frente e o vira num gole só. Coloca o copo vazio com força sobre o balcão parecendo sóbrio, mas desmaia logo em seguida com a cabeça em cima do balcão. No mesmo momento, passos são ouvidos nas escadas revelando-se ser Rena Matsuri que descia para o bar com um sorriso no rosto. 


- O Kai já che… gou? Mas seu sorriso dá lugar a uma expressão séria quando a garota se depara com o velho yakuza sentado no local.



- Estava em casa, filha? Achei que já estivesse no cursinho. O Sr.Matsuri,  olhava para sua filha com uma expressão de surpresa no rosto.


A garota então desce o restante dos degraus e caminha em silêncio até o cabide que ficava próximo a porta do bar, veste um casaco e pega outro que coloca sobre Hayato. - Vamos Hayato... te levo até em casa.


– Não vai cumprimentar o seu tio, Rena? Ele veio aqui só para nos visitar. Questiona o dono do bar a sua filha enquanto Ikeda já se virava no banco com um sorriso amigável no rosto, olhando para  a garota.


Rena fingindo não entender, balança a cabeça negativamente e franzindo a sobrancelha responde a pergunta de seu pai. - Que tio?


- Rena! Que atitude desrespeitosa é essa?! Akira que parecia bravo com sua filha é logo acalmado por Ikeda que balança a mão negativamente ao falar. – Deixa ela, Akira. Eu não ligo.


A garota apoia o braço de Hayato em seu ombro que resmunga enquanto anda até a saída. – Eu ~ posso acabar com todos eles ~ todos eles! ~ Sabe que posso né, Rena-chan? ~ A garota sorri e responde. – Sei que pode, Hayato. Sei que pode.


O dono do bar coloca a toalha no ombro e a usa para limpar o suor da testa enquanto observa os dois saindo. – Que garota teimosa. Pode deixar que vou fazê-la se desculpar corretamente da próxima vez.


– Não ligue prá isso velho amigo. Ela é jovem, éramos como ela no passado. Akira olha para Ikeda e apontando para si mesmo com o polegar rebate. – Esse velho aqui ainda dá pro gasto, sabia? Os dois se olham e começam a gargalhar.


- Hahahaha... - Hahahahaha.


Alguns minutos depois os velhos amigos estavam sentados em cadeiras dobráveis na frente do bar, um ao lado do outro. Ambos com uma garrafa na mão e conversando enquanto aproveitavam a noite.


– Minha filha é uma boa garota, só acho que ela ainda não superou o fato de você ter feito de Kai um Yakuza. O dono do bar bebe um gole direto na garrafa e faz uma careta logo antes de continuar. - Mesmo depois de tantos anos, ainda é difícil prá ela aceitar...


- Não a culpe. Diz Ikeda de cabeça baixa olhando pro próprio reflexo na garrafa que segurava. – Me pergunto se foi a decisão correta... O dono do bar olha para o amigo com um olhar surpreso após ouvi-lo.


Ikeda então coloca a garrafa no chão, e dá dois tapinhas na perna de Akira antes de se levantar e caminhar alguns passos ficando de costas para o amigo que o observava com um olhar curioso.


– Ele achou mesmo que eu não descobriria... O homem tateia o terno e tira um cigarro do bolso e o acende em seguida. Depois de um trago sopra a fumaça devagar. – É mesmo um cabeça oca desde criança.

                    

                                   - Quebre todos os dentes da minha cara se quiser, mas eu não saio daqui enquanto não me aceitarem! (voz de garoto)


- Disse alguma coisa? Pergunta Akira ao amigo após mais um gole de sua bebida direto na garrafa. - Não. Não é nada... A propósito. Ele vem sempre aqui, né? O Kai. O homem se vira para o amigo após fazer a pergunta.


- Vem sim. Quase toda noite.... Akira olha para o lado com um olhar pensativo. - Me desculpe pelo trabalho. Diz o velho yakuza coçando a cabeça com uma expressão sem graça no rosto.


Akira sorri e balança a cabeça negativamente. – Imagina, trabalho nenhum. Minha filha adora o Kai e além disso, ouvi-lo todas as noites me faz recordar os meus tempos de família.


- Sempre haverá espaço na família para você. Ikeda se senta novamente na cadeira antes de prosseguir. – Lembro que o meu velho, que Deus o tenha, te adorava! Quando você saiu ele até fez a barba. Ele tentava esconder, mas a rapaziada toda sabia que ele só fazia isso quando estava triste. O homem da um trago no cigarro e solta a fumaça devagar. - Aquele velho...


O dono do bar toma mais um gole de sua bebida antes de falar. – Sou muito grato pelo o que seu pai fez por mim, mas aquele Akira ficou no passado. Sabe Ikeda, cometi muitos erros na minha vida, mas sair da yakuza para casar com Machiko e termos Rena, com certeza não foi um deles.


O velho yakuza balança a cabeça positivamente com um sorriso de canto de boca antes de decidir falar. – Vamos brindar então. Ikeda joga o cigarro fora e pega a garrafa no chão e a estende para frente acompanhado por Akira.


- Aos filhos!


Minutos depois um carro preto modelo Toyota Century estaciona em frente ao bar, e dele sai um motorista de terno preto que rapidamente abre a porta traseira parecendo esperar por alguém.


- Veja só. Minha carona chegou. Os amigos se levantam das cadeiras e Ikeda prossegue. - Mais antes de ir, preciso te dizer uma coisa Akira. O dono do bar observa Ikeda com atenção. - Aquele garoto, o Kai, nunca vai admitir, mas você e sua filha são a verdadeira família dele.


O homem coloca a mão no ombro de Akira e aperta por alguns segundos até soltar. – Hahaha... Já devo estar bêbado. Cuide-se, velho amigo.


Akira sorri olhando para o amigo caminhando até o carro, mas antes mesmo do mesmo entrar no veículo ele grita. – Nos visite mais vezes! Podemos encher a cara com o Kai na próxima vez! Nós três!


- Hahahahaha... O homem gargalha ao entrar no veículo, se ajeita no banco, respira e cochicha. – Nós três...



- Sim... Nós três! Falava o homem de terno cinza e óculos escuros ao telefone escorado em uma vã cinza no estacionamento do aeroporto. – E como eu iria prever isso?! O cara apareceu do nada…


O indivíduo coloca a mão atrás da cabeça enquanto faz uma careta de dor. – Não... Estava de capacete... As nossas informações diziam que o velho estaria no aeroporto sozinho, não falaram que ele teria ajuda!


O homem tampa o fone do celular com a mão e olha para o chão onde seus dois companheiros permaneciam sentados gemendo de dor. – Levantem! O trabalho ainda não acabou! Diz o homem com um tom energético na voz aos seus companheiros que se levantam do chão com dificuldade e entram na vã.


O indivíduo destapa o fone e continua. – Eu sei, eu sei... Pode deixar que cuidamos da outra ponta solta. O homem de terno cinza caminha com o celular na orelha até a porta do veículo e antes de abri-la balança a cabeça positivamente. – Sim, odeio admitir, mas talvez precisemos dos serviços dele.


NA MANHÃ SEGUINTE


- Caraca! Que história incrível, professor. De verdade.  Falava Kai Saburo para o professor sentado de frente para ele no chão com uma expressão cansada no rosto. – Então se entendi bem, o senhor conseguiu salvar apenas metade da sua pesquisa. O resto tá com esse Oga.... Oga...


- Ogata! Doutor Ogata. Completa o homem antes de Kai terminar. – É um médico geneticista brilhante que trabalhava comigo no complexo. Eu planejava encontrá-lo aqui em Chisai, mas... depois do que vi na TV ontem, talvez não seja uma boa ideia.


                      Ainda não acredito que ele se foi sem completar a sua pesquisa.


- Verdade... qualquer um ficaria assim depois de ser traído daquele jeito por sua própria equipe. Fala Kai baixinho colocando a mão no queixo pensativo e olhando para o lado.


- Por mais que eu tente eu não consigo entender, Sr.Saburo. Quem no mundo teria interesse em forjar a minha morte e quem iria querer atrapalhar algo que só beneficiaria a humanidade? O homem desliza as mãos no rosto antes de prosseguir. – Tudo isso parece um grande pesadelo sem fim. 


Kai inclina a cabeça e franzi a testa antes de falar. – O Senhor tá brincando comigo, né? Sakaki olha surpreso para Saburo, não entendendo o motivo da reação repentina do rapaz que prosseguia. 


- Imagina a grana preta que figurões da indústria farmacêutica deixariam de faturar por causa disso aí? Saburo aponta para a mala que estava no colo do homem. – Vai por mim professor, eles tem todos os motivos prá quererem te ferrar. Todos! 


- Mas... Mas Sr. Saburo... O senhor não pode afirmar algo tão absurdo! Retruca Sakaki com certa rispidez na voz a Kai que apenas sorri. 


– O senhor pode ter razão, professor… Quem sou eu para afirmar algo assim? Mas até onde eu sei não é nada fácil forjar a morte de alguém e ainda notícia-lá na TV. Kai balança a cabeça positivamente. – Quem quer que seja que o senhor irritou é peixe grande, e algo me diz que não vai parar.


Uma expressão reflexiva e preocupada toma conta do rosto de Sakaki após ouvir as palavras de Kai que apenas levanta do chão, tira poeira imaginária de suas calças com as mãos e prossegue. 


– Bem, essa parece ser a minha deixa. O professor levanta o rosto para olhar o rapaz que continuava. – Só me passa o endereço que eu vejo o que consigo com ele. 


O homem olha para os olhos determinados de Saburo, reluta um pouco, mas logo tira um papel de seu paletó e o entrega ao rapaz. - Não é melhor que eu vá junto? Questiona Sakaki a Kai que estampa um sorriso no rosto.


– Com aqueles caras lá fora e a sua cara estampada nos jornais? Kai se agacha próximo a Sakaki e dá dois tapinhas no ombro do homem. - Acho melhor não. Aqui é mais seguro para o senhor agora! Mas... prá que o senhor não sinta a minha falta, eu tenho um presentinho ~


Saburo se levanta, tateia os bolsos e entrega um celular modelo Nokia para o homem. – Aqui, pode pegar. Tem o meu número na discagem rápida.


Sakaki pega o objeto meio relutante e agradece com a cabeça a Kai que sorri de imediato. - Ah, e não saia do apartamento por nada ou chegue perto das janelas, entendeu? Kai anda até a porta, calça os sapatos e sai deixando para trás a figura do homem cheio de incertezas e dúvidas em sua mente.



                       - Continue seus estudos e nós iremos te apoiar no caminho que você quiser seguir, como uma... Rena olha para o lado antes de continuar. – Como uma família. Kai vira o seu rosto e encara a garota, e com um sorriso no rosto decide falar. – Eu já tenho uma família, Rena-chan.



- Como ele fala isso pra mim sorrindo daquele jeito....? Ele não liga prá como eu me sinto...? Eu vou acertá-lo mais forte.... Da próxima vez… 


Rena Matsuri estava na sala de aula, quase vazia, sentada na carteira com a cabeça debruçada sobre os braços, falando enquanto dormia.


- Terra prá Rena-chan? Rena? Rena? RENAAAAAA!!!!


- Hã? O quê foi? A garota levanta o rosto ao despertar procurando quem havia lhe chamado, quando percebe sua amiga Mayumi Sonozaki parada em pé ao seu lado.

- Você tá bem, Rena? Quero dizer, você dormiu a aula toda, até tive que responder a chamada por você. A garota aponta o indicador para Rena antes de continuar. – Me deve uma.


A sonolenta garota se ajeita na carteira e boceja esticando os braços. - Desculpa Mayu... Não consegui pregar os olhos essa noite... Rena esfrega os olhos e em seguida  passa a colocar devagar os seus materiais de estudo na mochila.


Mayumi arrasta uma carteira para perto de Rena e se senta ao lado da amiga. - Escuta. Escuta. Você não vai acreditar no que a Hikari da classe ao lado fez ontem. Mayumi encostava seu ombro no de Rena e falava baixo para que os poucos alunos na sala não as ouvissem. – Ela preparou uma marmita para o professor Sato.


- O DE ARTES?!!


O grito de surpresa de Rena chama a atenção de alguns poucos alunos na sala, fazendo-os rir da curiosa cena. Rena olha para os lados com vergonha e chegando ainda mais próxima  de Mayumi cochicha para a amiga. - O professor de artes?


- Isso mesmo! Aparentemente ela e ele tinham um romance secreto e estavam brigados, mas ontem na hora do almoço ela deu uma marmita caseira para ele e os dois fizeram as pazes. 


Mayumi apoia o rosto com os cotovelos na carteira e suspira. - Queria tanto viver um romance proibido assim ~


- Uma marmita caseira...? Rena balança a cabeça positivamente com o olhar pensativo enquanto termina de guardar seus materiais devagar.


- Uhum. Consente Mayumi antes de prosseguir. – Não tem nada melhor para fazer as pazes do que preparar a marmita para o carinha de quem você gosta. Mayu passa o polegar no nariz e aponta o indicador para frente com um olhar determinado e continua. – Fisgamos eles pela barriga.


Rena fecha a bolsa e sorri para a amiga que permanecia com o braço esticado para frente. - Só você mesma, Mayu.


- E não é?! Bem, eu já tenho que ir agora. Mayumi se levanta da carteira e se despede da amiga que continuava sentada. – Nos vemos mais tarde no karaokê, né? A garota junta as mãos em forma de reza ao perceber o olhar relutante de Rena. - Diz que sim. Diz que sim. Diz que sim. Olha! Você me deve uma. Já se esqueceu? Anda, vai ~


Rena sorri e consente com a cabeça. – Não consigo dizer não para você mesmo, mas a carne é por sua conta.


Mayumi infla as bochechas e resmunga. – Que mão de vaca. Rena abre um sorriso com os olhos fechados para Mayumi que prossegue falando.


- Ok, nos encontramos lá, tá? A jovem corre até a porta, mas para antes de sair. – Ah, e vê se dorme um pouco, c tá péssima garota.


Rena franzi a sobrancelha e em seguida olha pensativa pela janela da sala de aula. A garota estira o braço na carteira e apoia a cabeça no ombro observando a paisagem. - Uma marmita hein...



O ventilador de teto do escuro apartamento girava tão devagar que parecia que estava parado. No local, um homem de meia idade que usava uma camisa social azul e um cavanhaque, permanecia sentado em uma poltrona balançando um copo com uísque que o apreciava em pequenos goles. Ao ouvir batidas na porta o solitário homem estranha pois não esperava visitas, ele então coloca o copo no chão, levanta e caminha devagar até a porta. Chegando lá, ele olha no olho mágico e em seguida retira uma das trancas.


- O que quer? Questiona o homem colocando apenas o rosto para fora da porta encarando o estranho parado ali.


- Ah, Senhor Ogata. Meu nome é Kai Saburo. O rapaz retira um distintivo do bolso do terno, mostra e guarda em seguida. - Sou do Serviço de Inteligência Japonesa ( SIJ) e tenho algumas perguntas sobre o incidente no complexo Ishinomori que gostaria de fazer. Será que eu poderia entrar?


- Desculpe-me, mas eu já disse tudo para à polícia. Se me der licença. O homem tenta fechar a porta novamente, mas Saburo coloca o pé impedindo que ele a feche.


- Olha. Kai sorrir antes de continuar. - Eu não quero fazer isso tanto quanto o senhor, mas se eu não pegar as informações de que preciso hoje, levarei uma advertência da chefia e terei que passar noites preenchendo papéis, então quanto mais rápido o senhor me atender, mais rápido eu vou embora.


O homem olha a expressão decidida no rosto do rapaz, fecha os olhos e suspira. – Dez minutos! Diz o homem a Kai que abre um sorriso no rosto e consente com a cabeça.


As luzes do apartamento são acesas e Saburo tira os sapatos antes de entrar. Ao entrar o rapaz parado na porta, percebe várias caixas espalhadas pela sala, algumas cheias e lacradas, outras vazias.


- O senhor está de mudança? Questiona Kai ao homem que caminha em direção a poltrona, pega o copo no chão e leva até a pia da cozinha que ficava perto da sala.


- Sim, estou.... Já que está parado aí, pode pegar essa caixa aí perto da porta e levar até ali. O homem aponta para o local e Saburo consente com a cabeça, pega a caixa e a leva até o lugar. – Posso saber prá onde?


- Net City. Minha família mora lá... O homem segura uma caixa vazia debaixo do braço e passa a jogar todo objeto que encontra dentro.


- Bem, depois do que o senhor passou no complexo, acho que é normal querer ficar perto da família. Era o que eu faria. Kai olha pro lado e caminha devagar até a mesinha de canto, lá ele pega um porta-retratos com uma foto de uma mulher e uma criança nele.


Ogata se aproxima de Kai e estende a mão, o rapaz sorri sem jeito e entrega o objeto. O homem olha por alguns segundos a foto no porta retratos e em seguida o coloca dentro da caixa que carregava. Ele leva a caixa até a mesinha, tira uma fita do bolso e a lacra. O homem então caminha até a sala, se senta no chão e em seguida estende a mão para que Saburo pudesse se sentar também. Kai caminha até o homem, retira um bloco de papel e uma caneta do bolso e se senta no chão de frente para ele em posição de meditação.


- Obrigado pela sua colaboração. Prometo que serei breve. O homem olhava para Kai esperando os questionamentos que viriam. – O senhor poderia começar me dizendo como era a sua relação com o Professor Sakaki?


- O Professor Sakaki era um amigo. Um dos pesquisadores mais brilhantes que já conheci. Quando nos aventuramos para o ártico, cinco anos atrás, ele tinha certeza que conseguiríamos algo grande, algo que iria revolucionar a medicina de uma forma jamais vista... O homem para por alguns segundos e continua. – Ainda não acredito que ele morreu sem completar a sua pesquisa.


Saburo não contém o riso e coloca a mão na boca. O homem franzi a sobrancelha para o rapaz que já guardava a caderneta e a caneta de volta no bolso. – Foi mal, foi mal. É que todos estão dizendo a mesma coisa “Ainda não acredito que ele morreu antes de completar a sua pesquisa” poderiam ao menos ter se dado o trabalho de mudar o discurso um pouco.


– Do que está falando? É assim que a SIJ trata o luto das pessoas? O homem tranca a expressão no rosto e passa a encarar Saburo.


- Tá, tá. Desculpe se não sou o poço de empatia que o senhor imaginava, mas se ele era mesmo seu amigo... Então porque está ajudando a forjar a morte dele? O homem arregala os olhos após ouvir o questionamento do rapaz que apenas sorri.



Dois homens caminhavam nos arredores dos apartamentos onde ficava o de Kai Saburo. Ambos usando roupas sociais de cor preta e segurando latas de spray nas mãos. Um dos homens para próximo ao estacionamento e caminha devagar até as escadas, seguido pelo outro.


- Naruki... Tem certeza que ele não vai tá em casa? ~ Pergunta o homem com a voz trêmula ao seu parceiro.


- Não seja idiota Hideki! Conhece algum Yakuza que fique em casa durante a noite? O rapaz engole seco ao ouvir o questionamento de seu colega. - É, acho que você tem razão....


- Sabe que ele derrotou dez dos melhores homens da chefinha, não sabe? Naruki olha para Hideki e consente com a cabeça parecendo preocupado. – Sim... e é por isso que estamos aqui, para vingá-los.


Ambos sobem as escadas devagar até se aproximarem da porta do apartamento de Kai Saburo onde Sakaki estava. Ao perceber passos nas escadas, o homem se levanta com sua mala e abre uma brecha na cortina onde nota as duas figuras paradas de frente a porta com latas nas mãos.


- “Aqui é seguro” ele disse. Cochicha Sakaki antes de ir devagar até a cozinha e pegar o que parecia ser um espanador como arma e voltar para perto da porta.


- E o que a gente vai escrever na porta dele? Questiona Hideki a Naruki que tremia e olhava para o lado pastorando para ver se ninguém os via.


O homem pensa um pouco e chega a uma resposta. - Que tal “Morra Kai Saburo, seu virjão!”? O sujeito suando frio olha para Naruki e os dois balançam a cabeça positivamente sorrindo. Em seguida chacoalham as latas e começam a escrever as ofensas.


- Espera! Ouviu alguma coisa? Questiona Hideki a Naruki antes mesmo de começar a pichar, olhando para os lados. Quando percebem algo que parecia ser uma sombra de alguém subindo as escadas, chegando cada vez mais perto. Hideki se esconde atrás de Naruki tremendo. – É ele, cara! É ele!


Sakaki nota a agitação do lado de fora quando vê através da brecha na cortina os homens largarem as latas no chão e correrem desesperados dali. Ambos chegam rapidamente até a outra ponta e se atiraram de lá caindo em uma lata de lixo. Eles saem de dentro e começam a correr sem olhar para trás. 


A sombra nas escadas se aproxima revelando ser Rena Matsuri que vinha de cabeça baixa segurando uma sacola pendurada nas mãos. Sakaki escondido percebe a garota andando até a porta e parando ali.


A garota morde o lábio inferior se mostrando apreensiva antes de resolver falar. – Posso só entregar a marmita e sair correndo! Não, aí ele acharia que sou louca... A garota assanha os cabelos com uma expressão irritada no rosto. Ela levanta o punho para bater na porta, mas para antes mesmo de bater ainda com a mão erguida. - Não seja idiota Rena Matsuri. Ele é um Yakuza! E todo mundo sabe que Yakuzas não ficam em casa durante a noite...


Sakaki que observava tudo pela janela sorria inconscientemente da garota que falava sozinha do lado de fora da casa, o que o fez lembrar, por um instante, do que Kai havia lhe dito na noite anterior no estacionamento e pensou que poderia se tratar da mesma garota.


                                   - Ganhei essa revista de uma amiga ontem. Ela disse que me traria inspiração.


- Já sei! Penduro na maçaneta com um bilhete. Rena sorria enquanto falava. – Assim quando ele chegar irá dar de cara com a marmita e saberá que estamos de bem de novo. É isso! A garota pendura a sacola na maçaneta, ajeita o bilhete e em seguida bate nas bochechas com as duas mãos para mostrar determinação e sai correndo dali. Alguns segundos depois a porta se abre devagar e a sacola é puxada para dentro.



- Por que está ajudando a forjar a morte do professor Sakaki? O homem olha para o lado relutando em responder o questionamento de Saburo.


- Doutor Ogata, o senhor não me parece um cara mau, de verdade. Saburo gesticulava com as mãos ao falar. - Se essa amizade que o senhor diz ter por Sakaki for real mesmo, o senhor tem o dever moral de expor isso e acabar com  toda essa palhaçada.


- Eu não posso. O homem coloca a mão na cabeça antes de continuar. - Me fizeram jurar que eu não diria nada a ninguém... – Quem fez o senhor jurar isso? Questiona Saburo interrompendo o homem.


– Quem está por trás disso tudo, Doutor? Kai questionava Ogata incisivamente quando escuta uma agitação vinda dos andares abaixo.


Saburo corre até a porta e vai até a varanda da escada onde olha para baixo e avista várias pessoas vestidas como os caras do estacionamento, subindo as escadas dali. – Que droga!


- O que está havendo? O homem se aproxima de Kai e olha para baixo confuso e se assusta. – O que eles estão fazendo aqui? Eu não contei nada prá ninguém.


- Parece que eles não confiam muito no senhor. Diz Kai sorrindo para o homem que parecia bastante assustado. – Eu tenho um plano. Vá pro seu apartamento e se tranque lá. Não abra a porta pra ninguém até ouvir a minha voz, entendeu? O homem consente com a cabeça e corre depressa para o apartamento.


Saburo se pendura na escada, balança e salta para o andar debaixo. Se levanta rapidamente do chão onde havia pousado e corre até o alarme de incêndio que ficava no fim do corredor. Ao ligar, o barulho da sirene faz com que as pessoas saiam de seus apartamentos pelas escadas, atrasando os homens que tentavam subir por ali. O médico permanecia escondido em seu apartamento quando escuta um forte pancada na porta.


– Sou eu Doutor. Abre aí! Ogata ao ouvir a voz de Kai corre e abre a porta para o rapaz que entra rapidamente e fecha.


- Tem pelo menos nove homens nas escadas. O alarme vai atrasá-los por alguns minutos, o bastante para darmos o fora daqui.


O homem para de frente para Saburo e curva totalmente o corpo. – Muito obrigado senhor Saburo! Um covarde como eu não merece receber a ajuda de alguém como o senhor. Muito obrigado!


Kai fica meio sem jeito, mas logo em seguida segura nos ombros do homem e retoma a sua postura. – Tá, tá. Me agradece depois, porque agora precisamos vazar daqui.


- Ok, eu só preciso pegar uma coisa... O homem se vira e Saburo nota um ponto vermelho luminoso em seu corpo. O rapaz arregala os olhos e joga o homem para o chão antes do pior. As balas atravessam as caixas, explodindo-as em inúmeros pedaços, enquanto Kai e Ogato corriam agachados para se protegerem até que os tiros parassem. Kai coloca o Doutor de lado, abaixa próximo a janela e tira um espelho do bolso que usa para espelhar o lado de fora.


- Um Sniper?! Fala serio... Kai ofegante respira um pouco antes de continuar. – Isso tá ficando mais perigoso do que imaginei... Acho que pelo curto intervalo dos disparos ele deve tá usando uma CZ 750. Se eu tiver certo e quase sempre tô, vai demorar pra ele recarregá-la. Precisamos chegar até a porta nesse tempo, Doutor....


- Doutor.... Me ouviu? Kai olha para o homem e vê uma mancha de sangue de um disparo em seu casaco. – Meu Deus... Doutor! Não, não, não, não, não. O senhor vai ficar bem, tá? É só um ferimento. Foco em mim. Fique comigo Doutor!


O homem que tinha a respiração inconstante revirava os olhos querendo perder a consciência, mas seu rosto era erguido por Kai que tentava de tudo para mantê-lo acordado. – Não precisa... não precisa me iludir senhor Saburo. Eu sou médico, lembra? Conheço um homem morto quando vejo um...


- Não fale Doutor, só escute! Kai fecha os olhos e balança a cabeça negativamente antes de continuar. - Eu não sou da SIJ tá bem, sou amigo do professor Sakaki. Ele me mandou procurá-lo. Então vamos sair logo daqui e vê-lo, ok?


- Sakaki está bem....? Graças a Deus. O homem segura o braço de Kai que olha para ele com uma expressão aflita. – Ouça... quando o complexo explodiu... fomos até o heliporto e lá mesmo fomos abordados por esses.... esses homens que nos falaram para contar aquela versão a polícia e a imprensa. Quem concordava, eles… ofereciam dinheiro, muito dinheiro! E quem discordava era... era ameaçado.


O homem solta o braço de Kai e uma lágrima corre pelo seu rosto. – Eles ameaçaram a minha família... Disseram que se eu não cooperasse, eu nunca mais os veria de novo... O médico aponta para uma das caixas alvejadas no chão antes de continuar. – Na caixa... O porta retratos...


Kai consente com a cabeça e ainda agachado pega o porta retratos de dentro da caixa e entrega na mão do homem. Ele olha a foto de sua família nele e em seguida o atira no chão para a surpresa de Saburo. O homem tateia com uma das mãos os cacos de vidro no chão e retira algo que parecia ser um cartão de memória.


- Aqui... O homem estende o objeto a Kai. - Pegue... Entregue a Sakaki... Diga a ele que sinto muito por tudo! E que se... ele puder contar isso à minha esposa e ao meu filho um dia, eu seria eternamente grato. Para que eles saibam que pelo menos na morte o marido... e o pai... não agiu como um covarde e fez a... coisa... certa.


Aos poucos os olhos do homem perdem o brilho e a vida se esvai de seu rosto. A morte havia chegado para o Doutor Ogata. Kai tateia os cacos de vidro no chão próximos a perna do homem e retira a foto de sua família. Ele coloca junto à mão do médico e a leva até o seu peito antes de falar. – O senhor não foi um covarde Doutor. O senhor sempre foi um herói.... prá eles.


Kai levanta do chão e para de frente para a janela de onde a pouco os disparos vinham sem parar. Ele franzi a sobrancelha e encara o horizonte como se desafiasse quem quer que estivesse por trás do gatilho. O alvo fácil era visto cerca de três quilômetros dali através da luneta de um franco atirador que permanecia com arma apontada para a janela de Ogata.


- É seu dia de sorte, garoto. Não tenho nenhuma bala com seu nome. Diz o homem para Kai que mesmo naquela enorme distância parecia encará-lo como se pudesse vê-lo. O homem que usava um casaco preto e uma camiseta com uma estampa de aranha por baixo, tinha uma enorme tatuagem de aranha que aparentemente começava no braço e terminava no pescoço. Ele levanta do que parecia ser uma caixa d’água no terraço de um prédio, desmonta a arma com uma destreza surpreendente e guarda tudo na bolsa. Ele pega a bolsa e dá um simples salto para o terraço escuro, caminha em direção às escadas que davam acesso ao beco do lado do prédio, mas para antes mesmo de descer. O homem fica imóvel por alguns segundos e em seguida saca a pistola modelo Sig Sauer e dispara três vezes contra a escuridão do local, quando escuta uma voz sobre seu ombro quase como um sussurro. - Você errou ~


O homem salta para frente quase que instintivamente e em um giro rápido aponta a arma em direção à voz, mas a misteriosa figura avança sobre ele e com um movimento ágil de mãos, pistola e munição são jogados um para cada lado. O atirador tenta se afastar de quem quer que fosse, mas é segurado pela camiseta. Prevendo o movimento que viria a seguir o homem ergue o braço para proteger sua face esquerda de um possível soco, mas em vez disso é puxado para frente onde recebe uma violenta cabeçada que o faz cambalear dando passos para trás. O homem meio desnorteado para e balança a cabeça como forma de recuperar os sentidos. O sangue escorria de sua testa evidenciando a forte pancada que acabara de receber, ele olha pra frente tentando identificar a figura, mas franzi a sobrancelha confuso ao perceber de quem se tratava. O atirador olha incrédulo para o lado em direção ao prédio onde ficava o distante apartamento do Doutor Ogata. Ainda olhando para lá, ele inclina a cabeça se mostrando ainda mais confuso e olha novamente para o rapaz parado ali antes de questioná-lo. – Me diga aberração.... Como chegou aqui tão rápido?


- Nossa... É incrível você ainda tá de pé depois de receber o meu melhor golpe. Tô impressionado, de verdade. A voz que saia da escuridão ficava mais clara conforme Kai Saburo se revelava. – Não é que existem mesmo caras incríveis como você andando por aí. E é por isso que vou responder a sua pergunta. Kai coça a cabeça e sorri antes de continuar. - Só digamos que... A lógica não funciona muito bem comigo.


- Besteira! Diz o atirador visivelmente irritado para Kai antes de prosseguir. – Se quer tanto morrer assim, então venha! O homem mal termina de falar e o rapaz já sai em disparada em sua direção. O atirador espera que Kai se aproxime o suficiente e então puxa uma faca da canela e como se cortasse o ar ele desfere um golpe mirando o pescoço de Saburo que percebe a tempo e joga o corpo para trás dando um mortal e chutando a faca de sua mão.


- Impossível! Fala o homem para o rapaz que já avançava contra ele novamente. Kai golpeia com um soco no estômago do atirador que curva o corpo de dor, ele aproveita a chance e junta as mãos como se fosse fincar uma bandeira no topo de uma montanha conquistada e atinge em cheio as costas do atirador fazendo-o tocar o chão do terraço com muita força.


A luta já parecia ganha, mas Saburo sente uma forte dor repentina em seu peito que o faz dar dois passos para trás. O atirador aproveita a oportunidade, se arrasta e pega a faca no chão desferindo um golpe contra a perna do rapaz o fazendo cair. Ele rasteja sobre Kai, ergue o braço e com o peso do corpo tenta a todo custo cravar a faca em sua garganta, mas Saburo tirando forças de onde não tinha segurava a mão do homem, resistindo e evitando sua morte. 


- Eu devia ter atirado em você quando tive chance, aberração. Diz o homem para Kai que segurava sua mão com muita dificuldade tentando evitar o pior. – Eu não cometerei o mesmo erro duas vezes.


O homem numa tentativa de finalizar a disputa, solta a mão que pressionava a faca e soca o cabo uma-duas vezes. A ponta da faca quase entra no pescoço do rapaz que resistia bravamente, quando no terceiro soco Kai joga o braço do atirador pro lado, fazendo a faca atingir o chão. Saburo então usa a perna e catapulta o homem para frente o atirando violentamente contra uma saída de ar do terraço. O rapaz levanta com dificuldade do chão e caxingando vai em direção ao sujeito que mal conseguia se mexer de tanta dor. Saburo segura o braço do homem e o arrasta até a beira do terraço, lá ele levanta o sujeito pela camiseta o deixando praticamente pendurado. 


- Pode tentar... Não vai conseguir arrancar nada de mim. Diz o homem com bastante dificuldade a Kai que permanecia segurando-o ali.


- Ele tinha família, sabia? Uma mulher e um filho que nunca mais o verão por sua causa. Um covarde feito você não tinha o direito de isso deles... Saburo olhava fixamente para o homem que sorria mesmo naquela situação e continua. – E fique sabendo de uma coisa... Desde que pisei neste terraço, nunca foi minha intenção arrancar qualquer informação de você!


Kai sorri e então larga a camiseta do homem que arregala os olhos e despenca do terraço do prédio para baixo levando com ele o desfecho de um dos maiores desafios da vida de Kai Saburo.



- Então o Dr. Ogata, se foi.... Por minha culpa. O homem com um semblante triste estava sentado no chão do apartamento de Kai de cabeça baixa, segurando o cartão de memória na mão.


– Eu agradeço por tudo Sr. Saburo, mas talvez seja melhor desistir antes que mais alguém se machuque.


- O que está dizendo, professor?! Kai caminha e agacha-se de frente para Sakaki e com a mão no ombro do homem continua. – Pense bem, se o senhor desistir agora a morte do Doutor terá sido em vão.


- Mas Sr.Saburo, se eu.... Antes que pudesse terminar, o homem é interrompido por Kai. – Droga! Pelo menos olha o que tem aí dentro, se não quer fazer isso pelo senhor, faça pelo Doutor.


Sakaki encara o rosto machucado de Saburo por alguns segundos e nota uma enorme aflição em seu semblante. O homem aperta a mão onde estava o cartão e em seguida consente com a cabeça para Kai. O professor pega a mala, coloca em seu colo, digita alguma coisa no painel, destravando-a e revelando um notebook de aparência desgastada. Sakaki encaixa o cartão na lateral do computador e em seguida abre a tampa. Vários gráficos e arquivos são abertos quase que instantaneamente na tela.


- Não pode ser. Quando ele copiou isso...? Kai se senta do lado do homem para olhar o que tinha deixado Sakaki tão surpreso.


- O que foi, professor? O que tem aí dentro? Kai olha para o homem com uma expressão apreensiva no rosto.


- É a minha pesquisa Sr. Saburo. Ou pelos menos, boa parte do que faltava... Nunca imaginei que ele tinha salvo tanto coisa...


Kai levanta do chão com um sorriso estampado em seu rosto. - Isso não é ótimo professor?!  Agora o senhor pode provar que a sua pesquisa fun... ciona...


Saburo para de falar ao observar a expressão séria no rosto do professor enquanto o mesmo olhava para o notebook, fazendo com que aos poucos seu sorriso desaparecesse. – O senhor não pode... não é?


- Não... É apenas uma parte Sr. Saburo. Tudo o que tenho aqui, por mais robusto que seja, não é o suficiente para provar que a minha pesquisa funciona. O homem balança a cabeça e retira suor da testa. – Acho que é o fim...


- Não, não é!


O homem olha confuso para o rapaz caxingando até a mesa que ficava ao lado da porta. Ele abre a gaveta, tira alguns papéis de lá, volta e se senta de frente para Sakaki. - Aqui! Saburo entrega os papéis para o homem que estranha, mas tira os óculos do bolso do paletó e começa a ler.


- Isso é.... O diagnóstico de uma doença terminal muito rara. Eu não entendo, a quem pertence isso Sr.Saburo? O homem olha para Kai que tinha uma expressão séria no rosto esperando uma resposta.


- São meus... O homem arregala os olhos para Kai que continua. – A doença se chama Cardiometrite Vascular. Saburo coloca a mão no peito antes de prosseguir. - É uma doença que começa no coração e se espalha para os outros órgãos através da corrente sanguínea. No ritmo em que está, tenho apenas meses ou semanas de vida.


- Sr.Saburo... eu, eu não sei o que dizer, apenas que.... sinto muito. – Não sinta! Diz Kai interrompendo o homem mais uma vez. – Não sinta, pois não vai acontecer!


- Ouça professor. Kai se aproxima de Sakaki que projeta o corpo para trás no chão de tão perto que o rapaz estava.


– Me deixe ser.... Me deixe ser a prova viva de que sua pesquisa funciona! O homem arregala os olhos e engole seco para Saburo que aos poucos estampava um grande sorriso cansado em seu rosto.



Na recepção do hospital uma médica alta de jaleco branco e cabelos loiros, dava diversas instruções para alguns jovens que pareciam médicos residentes quando sente um puxão na perna de sua calça. Ela olha pra baixo e nota uma garotinha segurando um ursinho de pelúcia.


- Sabrina? A médica olha a garota e se despede dos alunos, em seguida se agacha próximo a ela. – Quem deixou você sair do seu quarto há essa hora, meu amor?


- A Alice doutola. A Alice acodou. A médica franzi a sobrancelha ao perceber de quem a garotinha falava, faz um gesto para a moça da recepção de que cuidasse dela e sai em disparada pelo corredor do hospital. Quando chega ao quarto, ela vê a moça retirando a mangueira do soro do braço e tentando se levantar.



- O que está fazendo? Diz a médica ao segurar os ombros da moça e colocá-la novamente na cama. – Você acabou de sair de um coma, deve descansar.


Haruka coloca a mão na testa e todas as memórias daquela noite no complexo Ishinomori voltam a sua mente de uma vez só. – Eu... preciso falar com o meu tio...


A médica balança a cabeça positivamente. – Assim que pudermos tentaremos entrar em contato com seu familiar. Por enquanto irei te dar um sedativo para que descanse essa noite.


- Não... A garota balança a cabeça negativamente. - Eu não preciso de sedativo nenhum.... Preciso dizer a ele que houve um erro de cálculo na pesquisa, e que os nanites... mataram o morcego... 


- Eles o mataram!



EPISÓDIO 02

- FECHE OS OLHOS ALICE -


~Extra~


- Não preciso mais do serviços de vocês por hoje, podem se retirar. Diz Sakurako Enoshima a Naruki e a Hideki que saiam juntos tristes e abatidos do escritório da mulher.


Sakurako bate na mesa irritada e coloca a mão na testa como se uma dor de cabeça forte tivesse acabado de chegar. Quando o telefone toca em sua mesa, ela apenas aperta o botão do interfone e fala com sua secretária. - Desculpe Akane. Se for alguém, mande embora. Eu não estou com cabeça para receber mais ninguém hoje.


- Mas Srta. Enoshima. Eles disseram que é algo urgen..... Espera, sim! Muito obrigada. Eles já foram senhorita, deixaram o cartão.


- Obrigada, Akane. A mulher passa a mão no rosto antes de prosseguir. – Estou com um pouco de enxaqueca. Poderia trazer um chá de folhas de uva ao meu escritório.


- Sim. Já irei providenciar.


Quinze minutos depois a moça entra no escritório de Sakurako. Coloca o chá sobre a mesa e do lado da bandeja o cartão das pessoas que vieram há pouco. A moça se retira da sala e Sakurako agradece com a mão. Ela pega a xícara de chá, assopra levemente com seus lábios vermelhos carmesim, mas para ao perceber o cartão que Akane havia deixado ali. Ela coloca a xícara de lado e o pega reparando um símbolo um tanto rústico nele.



- Um... pentagrama? Sakurako olhava o cartão quando se lembra das palavras do velho Serizawa na noite passada.


                           - Então faça como eu, Srta. Enoshima. Quando não souber a quem recorrer, recorra às estrelas. Elas têm a resposta!


A mulher repete inconscientemente as palavras de Serizawa “– Recorra as estrelas...” e em seguida coloca o cartão próximo ao telefone, pega a xícara de chá, mas antes de beber ela sorri.


CAST


Kento Yamazaki como Kai Saburo


Ayami Nakajo como Sakurako Enoshima


Ken Watanabe como Professor Sakaki


Hamabe Minami como Rena Matsuri


Suda Masaki como Hayato Mori


Tadanobu Asano como Akira Matsuri


Mayu Hotta como Haruka Saruhashi


Koichi Sato como Senhor Ikeda


Susumu Terajima como Senhor Serizawa


Aoi Wakana como Mayumi Sonozaki


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Comentários

  1. Mano, deixa eu te falar. Que trama incrível que está se desenrolando nessa historia. Ta muito show o que ta sendo mostrado até aqui. Muito show mesmo. Saburo é um personagem como um background e com uma profundidade fora de série, sem mensionar todos os outros personagens que são importantes pra trama, O Ikeda, O Akira Matsuri, a Rena.

    A interação do Kai com o doutor Sakaki na cena dos dois discutindo no estacionamento do conjunto de apartamentos ali foi muito boa. A conversa entre Akira e Ikeda, demonstrando que os dois tem um passado juntos e o quanto eles se respeitam profundamente é outra cena que eu achei muito bem escrita. ´

    É tanta coisa tão bem colocada, tão bem descrita, que o que teoricamente deveria nos criar mais expectativas que é o fato do Kai finalmente se tornar um Kamen rider acaba ficando em segundo plano pois a gente não sente falta disso. E que luta foi aquela no topo do prédio entre o atirador e o Kai, aquilo foi incível de se ler. Sinceramente, tudo que ta sendo apresentado aqui ta valendo cada linha.

    Outra coisa que eu percebo, é a sua versatilidade não só de criar diálagos interessantes, c0mo também adequar toda a movimentação, trejeitos e ambientes onde os personagens estão fazendo com que tudo flua de forma que realmente parece que estamos assistindo a um episodio de uma série. Percebo que existe todo um cuidado em tratar essas partes do texto de forma que a gente perceba onde os personagens estão, como estão e como estão interagindo e eu gosto muito disso.

    O Serizawa é outro personagem que ficou muito, mas muito bem escrito. Ele é um personagem tipico japonês né. Exagerado mas nem tanto, debochado, expressa sorrisos falsos, olhares de "não to nem ai", enquanto haje por debaixo dos panos e a gente nota tudo isso dele só na primeira cena que ele aparece.

    Cara, eu acho que Matsuri tem tudo pra se tornar uma das maiores fics da Tokunet. Ta tudo na medida certa, tudo se encaixando aos poucos, tudo surjindo no momento certo.

    E claro, eu não podia deixar de agradecer a pequena homenagem ao meu universo ao citar a cidade de Net City. Isso me deixou emocionado, me encheu de alegria. Acordei cedo em pleno dia 02 de janeiro pra ler ao seu episodio e foi incrível. Meus mais cinceros parabéns a você. Agora é torcer pra não demorar mais um ano pra gente ler o terceiro episodio rsrs.

    Parabéns pela obra!!

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    1. Grande Rodrigo! Gostaria de te agradecer por decidir acompanhar a minha humilde fanfic, significa muito pra mim. Eu me divirto demais escrevendo o Matsuri e saber que tem pessoas como você me dando aquela força, fico ainda mais feliz de ter entrado nesse mundo. Agradeço pelos elogios e pode deixar que irei retribuir com muito mais episodios como esse e muito mais referencias nos próximos. Até o episodio 3 e fique na paz, meu amigo.

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  2. Henrique, que capítulo, meu amigo!
    Sua escrita transcende o esperado e nos transporta de corpo e alma para dentro dessa narrativa. Desde a primeira linha, a história agarra o leitor com uma intensidade rara, como se cada palavra fosse escolhida a dedo para compor uma melodia perfeita.

    Admiro profundamente como você constrói os diálogos e as cenas de forma fluida, sem cair no formato de roteiro. Esse detalhe dá uma elegância narrativa que poucos conseguem alcançar e, sinceramente, eleva a experiência de leitura a outro patamar.

    O ritmo é impecável. Você apresenta um texto extenso, mas nunca cansativo. Pelo contrário, cada parágrafo pulsa com energia, misturando informações importantes com momentos de pura adrenalina. As cenas de ação, em especial, são de tirar o fôlego! É como assistir a uma coreografia perfeita: você descreve cada movimento com uma precisão e vivacidade que nos faz imaginar cada detalhe.

    Além disso, a forma como você entrelaça as descrições de cenário com o desenvolvimento dos personagens é brilhante. Nada parece gratuito ou fora de lugar. Não há excessos, não há lacunas; tudo está no lugar certo, no momento certo. Mesmo sem a aparição do Rider do título, o enredo já é magnético o suficiente para nos deixar completamente vidrados.

    Henrique, você está criando algo realmente especial aqui. Parabéns por uma obra tão bem trabalhada, com um equilíbrio raro entre narrativa, emoção e ação. Você está mandando muito!

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