KAMEN RIDER MATSURI 01

O sol brilhava forte iluminando o lugar paradisíaco. Rapazes corriam em direção ao mar com suas pranchas de surf desafiadoras debaixo de seus braços tatuados, enquanto que suas pequenas os aplaudiam eufóricas de biquíni na praia. Aperitivos e copos de limonada com pedrinhas de gelo dentro os aguardavam em cima de uma pequena mesa de madeira. Debaixo de um dos copos um guardanapo com a palavra "férias" escrita a mão e uma marca de batom. Mas esse nem de longe é o cenário da minha história. É só um quadro brega de um artista desconhecido pendurado na parede que será destruído daqui a pouco.

- Afinal eu... Eu não tiro férias!

Um corpo de um homem é projetado contra a parede destruindo o quadro que ali estava. Gritos de ódio e impactos eram sentidos e ouvidos de todos os cômodos do local, mas tudo isso parecia não importar para a mulher elegante que continuava sentada em sua cadeira no mesmo lugar. Seu cabelo era solto e jogado para trás destacando a franja em sua testa, seu rosto era maquiado o que evidenciava o lado vaidoso da mulher, vestia um blazer vermelho aberto com uma blusa bege por baixo, no pescoço um pingente de ouro e na orelha apenas um brinco, enquanto que em suas mãos segurava um copo de cerâmica com chá quente. A mulher assoprava a sua bebida com seus lábios vermelhos parecendo aguardar o inevitável.

No meio de tantos corpos desacordados e lamentos, um homem segurando uma cadeira dobrada, caminhava em direção à porta divisória de madeira que separava um dos cômodos, passando através da cena e saltando sobre alguns corpos como se jogasse amarelinha. Já na porta, a estranha figura que combinava um terno cor de vinho com um tênis branco da Nike, coça a cabeça e bate três vezes na porta antes de chutá-la para longe como se nada fosse. A mulher solta um sorriso de deboche e continua a esfriar sua bebida calmamente.

- Você devia reforçar essas portas. Divisórias de madeira são tão frágeis. Disse o homem de cabelos castanhos escuro entrando no cômodo.

– E, além disso, eu bati.


- Pelo visto, não foi apenas na porta que você teve que bater para conseguir entrar aqui. Dizia a mulher enquanto levava o seu copo de chá até a boca e o apreciava em pequenos goles.

- Tá falando dos caras lá fora? Não precisa se preocupar, só estão tirando uma soneca. Saburo se aproximava da mesa da mulher enquanto apontava o polegar para trás e estampava um sorriso no rosto.

- Será que eu, Sakurako Enoshima, sou tão bela ao ponto de um homem enfrentar dez homens só para vir me ver. A elegante mulher coloca seu copo sobre a mesa e leva a palma de sua mão até a boca e começa a rir.

- hohohoho ~

Saburo observava a mulher enquanto armava a cadeira de frente para a mesa. Ao se sentar, estampa um sorriso cheio de dentes no rosto e começa a gargalhar também.

- hahahaha  ~

- hohohoho ~

- hahahaha  ~ hohohoho ~

Enquanto os dois riam juntos, Saburo tira um papel do terno com vários nomes de pessoas e coloca sobre a mesa de Sakurako com violência, fazendo o líquido no copo espirrar para fora e mudando a expressão de bem humorada da mulher para seria.

- O que é isso? Questiona a mulher olhando para o papel e para Saburo sem mover o seu rosto.

- Acho melhor você cooperar comigo agora, Sakurako-chan. Saburo tinha um sorriso no rosto que poderia irritar qualquer pessoa, mas não Sakurako.

- Sakurako-chan. Você parece ter amnésia, então vou refrescar a sua memória um pouco. Kai pega o copo que ali estava, levanta da cadeira, projeta o corpo sobre a mesa e começa a derramar aos poucos o chá, já frio, na cabeça da mulher que sorri como se não acreditasse naquilo que o rapaz estava fazendo. Enquanto derramava, Saburo falava.

- Dois dias atrás um homem chamado Marumo Satoshi roubou promissórias do meu chefe e tentou vendê-las a preço de banana para alguns bacanas. Ao ser descoberto ele fugiu, mas um de meus informantes falou que ele ainda estava no Japão, mas que planejava fugir amanhã com documentos falsos. E todos nós sabemos aqui que você é a melhor nesse ramo.

Saburo coloca o copo vazio sobre a mesa, senta-se e tira do bolso do terno um lenço que o estende para Sakurako, mas a mulher o pega e o atira de volta contra o rapaz.

- E o que te faz pensar que ele me procuraria seu idiota!? Diz Sakurako com a voz mais alterada limpando o líquido do rosto com as duas mãos.

- Eu sou a primeira da lista de muita gente importante, me procurar para tão pouco seria assinar o seu atestado de obviedade. Yakuzas são tão burros assim? Questiona a mulher com um sorriso no canto da boca encarando Saburo.

- Eu sei que não foi você Sakurako-chan, mas você com certeza sabe quem foi. Uma expressão de preocupação passa a tomar o rosto de Sakurako após as palavras do rapaz.

- Essa expressão te entregou. Ela é maravilhosa. Dizia Saburo apontando para o rosto da mulher enquanto sorria.

Os dois se encaram por alguns segundos e Sakurako começa a falar. – Eu ouvi a respeito de você, Kai Saburo. Não é esse o seu nome? A mulher respira um pouco e continua. - Sr. Saburo, diferente de vocês Yakuzas, nós temos profissionalismo e mantemos em segredo nomes de colegas de profissão por uma questão de ética. Espero que compreenda.

Saburo que tinha um sorriso irritante a maior parte do tempo durante a conversa, faz uma expressão séria e começa a falar.

- Sakurako-chan... Acho que não refresquei o suficiente a sua cabeça. Que tal fazermos um trato. Você me conta o seu segredo e eu não faço do seu cadáver no fundo do rio ser o meu. O que acha?

Saburo volta a sorrir olhando para a mulher visivelmente desconcertada na sua frente.

- Então eu disse “Ou me fala o seu segredo ou seu cadáver no fundo do rio  será o meu”. Sou descolado, não sou? Hahahaha.... Saburo gargalhava segurando um copo em uma das mãos e gesticulando com a outra.

- Que coisa horrível. Diz o jovem de óculos que usava uma camisa polo preta e calça jeans bebendo ao lado de Saburo.


- Você me odeia Hayato, mas mesmo assim sempre vem beber no bar onde eu bebo. Saburo apontava o indicador da mão que segurava o copo para Hayato que o olhava irritado.

- Maldito! Eu já bebia neste bar mesmo antes de você chegar. O jovem parecia ainda mais irritado com Saburo agora.

- Eu já saquei! Você finge me odiar, mas na verdade me adora. Não é mesmo? Saburo se aproxima mais de Hayato e o pega com o antebraço e passa a assanhar os cabelos do rapaz.

- Me solta seu psicopata.... me solta ou... vou acabar com você! Os óculos de Hayato quase caem de seu rosto enquanto tentava se soltar dos braços de Saburo.    

- Deixe ele Hayato. Além disso, eu gosto das histórias do Kai. Disse a voz amigável do homem servindo saquê para ambos.

- Viu só quatro olhos, alguém que valoriza as minhas histórias. Disse Saburo soltando o jovem que passou a ajeitar os óculos.

- Ele é o dono do bar! Ouvir as besteiras dos clientes é o principal trabalho dele. Hayato já com os óculos no lugar se mostrava ainda mais incomodado com Saburo.

O homem de meia idade para detrás do balcão, limpa o local onde a pouca havia alguns copos vazios, coloca a toalha no ombro, limpa o suor da testa com a mesma toalha e se dirige a Saburo.

- E então Kai. O que aconteceu depois? O homem parecia animado para ouvir o restante da história de Saburo.

- Depois?! Ah, ela me apontou o nome na lista e quando eu ia saindo de lá, ela me disse algo...


                             O rapaz levanta, pega a cadeira, dobra-a e a coloca debaixo de seu braço. Agradece se curvando pela informação da mulher ensopada de chá, e caminha em direção à saída, mas para quando escuta a voz dela.

- Eu conheço homens iguais a você, Kai Saburo. Jovens, ambiciosos e cheios de vida. Que acham que são invencíveis, mas tenha muito cuidado, pois nunca se sabe quando o destino pode lhe pregar uma peça.

Saburo depois de ouvir em silêncio o que a mulher tinha acabado de dizer, se vira para ela e caminha de volta até a mesa.

– Foram nove!

A mulher desconsertada não compreende a afirmação que o rapaz acabara de fazer. - Perdão?

- Você disse antes que eu tive que derrotar dez homens para te ver, mas na verdade foram nove. Um cara lá na entrada já estava tirando uma soneca quando cheguei. Então se realmente conhece homens iguais a mim, deveria contratá-los, porque os seus... os seus não são de nada! A mulher tremia de raiva enquanto Saburo colocava um sorriso no rosto e se dirigia a saída deixando a cadeira pelo caminho.

Na saída o rapaz para como se lembra-se de algo. - Eu gosto de você Sakurako-chan. Tanto que vou até consertar a sua porta. Saburo pega a porta no chão e a escora na saída enquanto se despede com um “tchau tchau”  da mulher.

 

- Você é o pior. Diz Hayato ao levar um copo de saquê até a boca e tomar um gole.

- O que foi? Questiona Saburo fingindo não entender as palavras de Hayato. - Eu até arrumei a porta dela.

– Maldito! Foi você mesmo que quebrou! Hayato parecia realmente irritado com o rapaz.

- Isso é só um detalhe, mas de certa forma ela tinha razão. Eu me sinto mesmo invencível e cheio de vida. Saburo levanta do banco do bar e começa a dar punches e jabes como um lutador de boxe.

O rapaz estava tão entretido na brincadeira que nem percebeu quando alguém desceu as escadas ao lado e o acertou com força na cabeça.

- Aiiii ~ Dói, dói muito.... Que dor ~

Saburo esfregava o lugar com as duas mãos enquanto virava-se para olhar a pessoa que tinha o atingido.

- Derrotei o homem invencível!  Gritava a garota balançando uma revista enrolada na mão em forma de cone.


- Mandou bem Rena-chan! Disse Hayato sentado com a palma da mão levantada para que Rena pudesse bater. A garota bate na mão do jovem e em seguida se dirige ao pai. 

- Papai, já disse pro senhor não incentivar esse idiota em suas loucuras. Rena apontava a revista enrolada para Kai enquanto franzia a testa e olhava para o seu pai.

O homem sem saber o que falar para filha que o encarava na frente do balcão, tira a toalha do ombro e pensa por alguns segundos no que iria dizer. – Nossa! Lembrei que não terminei de fazer o balanço hoje. Estou ficando velho.  O homem sai para os fundos da loja acompanhado pelo olhar da filha.

- Seu pai faz balanço todos os dias? Questiona Hayato com o ar de riso observando o Sr. Matsuri se atrapalhando nos fundos do bar.

Rena então volta o seu olhar para Kai que estava sentado encolhido no banco do bar bebendo saquê segurando o copo com as duas mãos.

- O quê? Pergunta Saburo se virando para garota e fingindo não entender os motivos dela.

- Você é alguma espécie de stalker?! Questiona Kai a Rena que caminhava ao seu lado pelas ruas da pequena Chisai.

A garota fingindo que não ouvia, aperta a mochila marrom contra o peito e apressa o passo para se distanciar do rapaz, mas para logo em seguida de costas na frente dele, fazendo-o parar também.

- Eu... sempre pego esse caminho para ir pro cursinho, se não gosta, pegue outro caminho. Saburo não se mostrava surpreso com a rispidez das palavras da garota, mas nota algo estranho em sua voz. – Rena-cha....

- Você é um idiota! A garota falava baixo a mesma palavra repetidas vezes. – Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Idiota. Depois de alguns segundos de silêncio, Rena se vira para Kai que estava com uma expressão confusa no rosto e prossegue.

– Você não entende Kai? Todos esses anos... Rena balança a cabeça, respira um pouco e continua. – Não entende que eles estão apenas te usando?! O velho Ikeda não vai descansar até te matar, mas mesmo assim você continua a segui-lo cegamente!  A garota ofegava enquanto observava Kai parado com as mãos nos bolsos olhando de lado.

Era inverno, por isso o frio castigava. Pessoas agasalhadas passavam indo e voltando com pressa de seus compromissos, caminhando e observando com seus olhares curiosos a estranha cena.

Rena se aproxima de Saburo que continuava parado no mesmo lugar sem esboçar nenhuma reação e prossegue. – Você era o melhor atleta do colégio, todos te admiravam e queriam ser igual a você. Você poderia ter conseguido uma bolsa de estudos na universidade que quisesse! Kai tira a mão do bolso e coça a cabeça demonstrando impaciência.   

- Não é tarde demais Kai. A garota olhava para Saburo com um olhar esperançoso. - Largue aquele velho e venha trabalhar no bar com o papai. Continue seus estudos e nós iremos te apoiar no caminho que você quiser seguir, como uma... Rena olha para o lado antes de continuar. – Como uma família.

Kai vira o seu rosto e encara a garota e com um sorriso no rosto decide falar. – Eu já tenho uma família, Rena-chan. As palavras do rapaz fazem a garota dar dois passos para trás e começar a rir debochadamente.

– Já tem uma família?! Questiona Rena para si mesma. - Não sei porque eu ainda tento falar com um idiota como você. A garota se vira e começa a apressar o passo ainda mais rápido que antes.

Kai ao ver a garota se distanciando dele, desliza a mão no rosto e corre para alcançá-la. - Qual é Rena? Você sabe o que o Sr. Ikeda fez por mim e pela mãe, não sabe? Eu tenho uma divida com ele! Kai andava de costas na frente da garota enquanto falava.

- Foi graças ao Sr. Ikeda que minha mãe pode ter um tratamento digno antes de morrer. Se não fosse por ele o sofrimento dela teria sido muito maior.  Saburo olhava para Rena enquanto a garota diminuía os passos.

- Eu sei disso Kai, mas... Rena tenta falar, mas é interrompida por Saburo.  - Ele até pagou o funeral dela. Você lembra disso! Você e o tio Akira estavam lá comigo. E, além disso, não foi o Sr. Ikeda que me forçou a ser um Yakuza, foi decisão minha. Ele não queria.

- O Santo Ikeda. Rena ironiza as palavras de Saburo que retruca. – Não é santo, mas você tem que admitir que graças a ele as ruas de Chisai são as mais seguras há anos. Ele é diferente dos outros Yakuzas, Rena-chan. Ele usa o poder e a influência que tem para fazer o bem. Saburo encarava a garota com um sorriso cansado no rosto, esperando que ela falasse algo.

Rena olha nos olhos de Saburo por alguns segundos, respira e decide falar. - Quer saber, Kai? Faça o que você quiser! Só me prometa que não vai se matar por eles, tá? Rena passa a frente de Saburo que fica de costas para ela, mas o rapaz corre e volta à caminha ao lado da garota.

- É fofo você se preocupar tanto assim com o seu amigo de infância, até parece que você está gama... Antes mesmo de Saburo conseguir terminar de falar, Rena abre o zíper da bolsa, tira a revista e o acerta novamente.

- Ai... Doi. Dói muito. Saburo esfrega o local olhando para a garota visivelmente vermelha ao seu lado. – Que diabos de revista é essa? Que dor ~

- Ah, isso aqui? Comprei na banca hoje à tarde. É uma revista com as maiores personalidades do Japão. Homens de sucesso! Algo que você nunca será. Rena tinha uma expressão de deboche no rosto enquanto folheava a revista.

- Magoei. Saburo pega a revista das mãos de Rena e a questiona. - E o que esses caras aqui têm de tão bom? Kai olhava as personalidades abrindo a revista em páginas aleatórias.

- Aqui, esse cara aqui! O rapaz apontava para a personalidade na revista e olhava para Rena. – “Tatsumi Mitsubasa”. Tem cara de bastardo! Tão bastardo que nem parece deste mundo, provavelmente veio do planeta dos bastardos. O que adianta ter tanta grana com essa cara? Saburo batia com as costas da mão na figura do empresário.

Rena sorri da tentativa sem sucesso de Saburo de desmerecer as figuras na revista. – Você tá é com inveja, Kai.

Os dois continuam caminhando até o ponto de ônibus onde Rena iria ficar. Antes dela embarcar no ônibus, Saburo estende a revista e entrega a garota. Rena pega a revista, enrola e coloca no bolso do terno de Kai.

- Fique com ela. Talvez ela seja a inspiração que você precisa. Rena dá dois tapinhas onde a revista estava e embarca.

- Inspiração é? Questiona Saburo para si mesmo ao observar o ônibus que levava a garota se distanciando. Antes de deixar o local, o telefone do rapaz vibra e ele estranha o número. – É a Rena? Mas o que será que essa garota doida quer? Saburo atende o telefone e leva até a orelha.

- Escute bem, Kai Saburo. A garota tinha um tom ameaçador na voz que fez Kai engolir seco. – Se você por acaso espalhar qualquer tipo de boato safado sobre a gente. Juro que da próxima vez te acerto na cabeça com um taco de baseball! – Saburo segurava o telefone na orelha com os olhos arregalados.

- Ah, já ia esquecendo. Coloque um casaco. O tempo está frio. A garota desliga, enquanto que Kai devagar leva o celular até o bolso. – Uau! Ela dá mais medo que os Yakuzas.

Saburo treme cruzando os braços ao sentir o vento gelado da noite. - Acho que Rena tinha razão, melhor eu ir pra casa me agasalhar. O vento soprava ainda mais forte, como se zombasse de Kai. – Maldição! Eu estou no Japão ou no Polo Sul? Saburo esfrega os dois braços e continua andando.

48 horas atrás.

Já são quase cinco anos nesse inferno gelado.  Admito para você Angelina, que muitas vezes eu quis apenas desistir desse sonho considerado por muitos impossível, mas o seu sorriso e suas palavras de apoio sempre encorajaram este velho tolo a querer continuar. Lembro-me do que você me dizia, que uma das coisas que mais gostava em mim era a minha teimosia, e talvez graças a ela, hoje, eu possa dar o maior passo que já dei em todos esses anos árduos de pesquisas. Obrigado por nunca desistir de mim minha filha.

- Fim da gravação.

Uma porta se abre iluminando parte da mesa onde uma estranha figura de jaleco estava sentada de frente para o seu notebook. Na porta, uma garota de óculos que combinava um macacão marrom com uma blusa azul por baixo, o aguardava com uma expressão ansiosa no rosto.

- Tio Sakaki. Está na hora! 

- Obrigado Srta. Saruhashi! Eu já estarei lá. A figura misteriosa falava de costas com a garota que apenas concorda com a cabeça e sai correndo.

O homem respira fundo, fecha o notebook, levanta da cadeira e antes de deixar o quarto, passa os três dedos da mão direita sobre a foto no porta-retratos em cima de sua mesa e sai.

Um projetor em uma sala revela um pequeno gafanhoto com características bem únicas da espécie. As imagens eram exibidas para o público de umas quinze pessoas que iam desde pesquisadores e engenheiros a cozinheiros e faxineiros. Todos ouvindo atentamente os comentários do homem enquanto as imagens eram exibidas.

– Esse carinha simpático que vocês estão vendo é o responsável por condená-los a este lindo hotel cinco estrelas no ártico. As pessoas na plateia riam com a piada irônica do homem que prosseguia com sua apresentação.

 - O chamamos de Caelifera Glacial. Não é um nome ruim, não acham? Apesar de ter sido eu que batizei. As pessoas voltavam a rir.

- E quem poderia imaginar que no genoma quase que microscópico deste camaradinha extinto há milhares de anos, aqui mesmo no ártico, estaria escondido a cura para diversas doenças. Pode fechar o slide Srta. Saruhashi.

- Sim, professor Sakaki.

A garota que estava sentada de frente ao seu notebook com uma incomum gaiola ao seu lado, fecha a apresentação e conforme a tela de projeção se erguia, revelava uma sala cheia de monitores e um homem em pé ao lado de duas mesas de metal.

 

- E usando as células deste curioso inseto, somadas a nano tecnologia, conseguimos obter um resultado animador em nossas pesquisas, pois uma das principais características do Caelifera Glacial, no passado, era sua incomum habilidade de regeneração. Resumindo, ele seria o pesadelo de qualquer agricultor hoje em dia. As pessoas na plateia voltam a rir da piada do homem.

- E para o nosso primeiro teste, vou pedir que a Srta. Saruhashi traga o nosso pequeno paciente involuntário para cá. A moça se levanta da cadeira, pega a gaiola ao seu lado e leva até a uma das mesas enquanto o professor já preparava uma ampola e uma seringa na outra.

- O que vão testemunhar agora é o fruto do trabalho duro de todos aqui presentes. O homem pegava a seringa enquanto a moça tirava um morcego sedado de dentro da gaiola e o apresentava ao público.

- Este é Wilbert. Wilbert tem uma grave doença terminal. O objetivo desta demonstração é saber como os nanites irão reagir à condição de Wilbert. E como podem ver, há um dispositivo eletrônico ao redor de seu abdômen. Ele servirá como catalisador/ gerador que ajudará a espalhar os nanites que o meu tio... A moça se atrapalha nas palavras fazendo o professor olhar para ela e para a plateia com um sorriso sem graça. – Digo, que o professor Sakaki injetará em seu corpo. Tratando a doença.  

- Muito bem Srta. Saruhashi. Pode colocá-lo de volta na gaiola. A moça prontamente coloca o morcego de volta e retorna ao seu lugar.

O professor então aplica o conteúdo da ampola no morcego dentro da gaiola que reage apenas com um grunhido. Todos ficam atentos olhando pelos monitores especiais as imagens do morcego que mostravam o local da doença em vermelho, enquanto que o local onde os nanites tinham sido injetados estava em azul. Rapidamente os robôs viajam pelo organismo do morcego até chegarem ao local da doença.

O professor olhava para a tela com um olhar deslumbrado e um sorriso no rosto. - Angelina.... Esteja vendo isso. O sonho impossível de um velho tolo se realizando.

A mancha azul aos poucos ia combatendo a doença em vermelho no animal apresentado na tela. Todos permaneciam em silêncio quando de repente uma pessoa se levanta e começa a aplaudir fazendo os outros aplaudirem também. Algumas pessoas levantavam de seus lugares e iam cumprimentar o professor Sakaki, inclusive Haruka. A garota retira os óculos, limpa as lágrimas com as mãos e se dirige ao seu tio.

- Estou tão feliz pelo senhor, professor. Tenho certeza que se Angelina estivesse aqui ela estaria muito orgulhosa. Dizia a garota visivelmente emocionada para o homem que balançava a cabeça confirmando.

Pouco tempo depois as pessoas voltam aos seus acentos e o professor Sakaki volta a falar. – Agradeço a cada um de vocês presentes nesta sala. Nosso amiguinho Wilbert também se saiu muito bem. Palmas para o Wilbert pessoal! As pessoas batiam palmas para o morcego na gaiola que estava acordado e aparentemente bem.

- Sei que todos nesta sala devem estar cansados, mas descobrimos a cura para o câncer pessoal! Vamos comemorar! As pessoas se levantavam motivadas pelas palavras do professor e aos poucos iam se amontoando para festejarem a conquista. Enquanto que algumas pessoas traziam os comes e bebes e se serviam, outras se aproximavam do professor falando de prêmios internacionais e o cumprimentando.

No meio da festa, o professor Sakaki chama sua assistente no canto para uma conversa. – Srta. Saruhashi.  Preciso que monitore o Wilbert dia e noite, entendeu? Qualquer tipo de reação fora dos padrões me informe imediatamente. A garota ao perceber a preocupação no rosto de seu tio consente com a cabeça.

A noite caia na congelante Antártida. Enquanto todos estavam dormindo, Haruka Saruhashi permanecia acordada sentada em uma cadeira giratória de frente para o seu notebook no quarto. A tela mostrava o morcego Wilbert e ao lado dele vários dados de monitoramento, inclusive gráficos. A moça retirava seus óculos e esfregava os olhos se mostrando exausta e com sono, mas permanecia digitando sem parar em seu computador. Quando algo lhe chama a atenção.

SOBRECARGA – SISTEMA EM OVER CLOCK

- Não é possível. O meu gerador deveria ser mais que o suficiente para suprir a energia enviada para os nanites. A garota ajeita seus óculos e passa a digitar mais e mais em seu computador, mas o que percebe a deixa estagnada. – Não pode ser...

Na tela mostrava a mancha azul no organismo de Wilbert se espalhando por todo o seu corpo e se intensificando.

– Os nano robôs estão se… multiplicando! A moça coloca a mão na boca não crendo naquilo que estava vendo e sai em disparada até a sala onde Wilbert estava.

Ao chegar lá, ela abre com força à porta e vê através do vidro o morcego agitado dentro da gaiola, mas é a cena seguinte que deixa a moça sem reação. Os nano robôs passavam a tomar conta do corpo do morcego e criavam uma espécie de armadura à sua volta. A garota dá dois passos para trás e sai correndo pelo corredor.

– Tenho que avisar o tio Sakaki. Mas antes mesmo de Haruka chegar ao quarto do professor Sakaki, um estrondo seguido por um tremor faz a garota se desequilibrar e bater com a cabeça na parede do complexo.

- Explosão?! - Fogo! - Socorro! - Ai meu Deus!!

A garota ainda no chão ouvia vozes e via pessoas correndo para cima e para baixo desesperadas nos corredores do complexo. Mesmo com a testa sangrando e a vista embaçada, a moça avista o professor Sakaki saindo de seu quarto com uma maleta na mão e correndo em sua direção.

- Srta. Saru...  Reaja... Haruka... Fique... migo...

A imagem preocupada e a voz do professor iam desaparecendo conforme a garota perdia os sentidos. Enquanto isso, do lado de fora do complexo, explosões aconteciam por toda parte. Clareando a noite.

Dias atuais

Um médico que trajava um jaleco branco caminhava pelo corredor se mostrando bastante cansado devido a intensa jornada de trabalho da noite anterior no Hospital de Chisai.  Ao parar para descansar, ele se escora em uma marca e em seguida retira do bolso da calça um lenço azul que o leva até sua testa para enxugar o suor, quando escuta um barulho estridente no fundo do corredor. O homem olha de imediato na direção do som, mas não vê ninguém e então decide continuar andando.

Conforme caminhava, os sons de seus passos se confundiam com os sons de outros passos logo atrás. Ao perceber que não estava sozinho, o homem olha rapidamente para trás e vê a estranha silhueta que o seguia.

– Que droga! O médico decide apressar o passo e começar a correr pelo extenso corredor do hospital.

O homem corria para tentar despistar o seu perseguidor, mas parecia inútil para a implacável figura que o seguia. Ao chegar no fim do corredor, o médico vira a direita correndo e quase escorrega no chão liso do hospital. Corre mais um pouco até avistar o elevador da zeladoria.

- Vamos. Vamos. Dizia o médico enquanto apertava o botão de descer do elevador e olhava para o lado.

O elevador se abre revelando um carrinho de limpeza. O médico de imediato entra no elevador, mas antes mesmo da porta terminar de se fechar um braço entra pela brecha assustando ainda mais o médico que grita. - Jesus!

O homem de jaleco sem pensar muito, pega o esfregão no carrinho de limpeza e o usa para empurrar a misteriosa mão com força para fora. Após ter êxito, o elevador se fecha e ele se escora na parede aliviado. Ao chegar no andar acima o homem sai e olha para o lado onde avista uma sombra nas escadas. Sem perder tempo, o médico começa a correr novamente até chegar à sua sala. Ele entra rápido e tranca a porta com a chave, mas ao se virar dá de cara com seu perseguidor parado na sua frente.

- Booo! Disse a misteriosa figura com um cobertor sobre a cabeça para o médico assustado.

– Ahhh!!! Nossa... Você quer me matar Kai?! O homem com uma mão no peito puxa o cobertor da cabeça de Saburo com a outra, revelando o rapaz.

O médico então aponta para a porta e franzindo a sobrancelha se questiona. - No corredor e depois na escada e agora aqui?! Isso não tem lógica nenhuma... Disse o médico levando as duas mãos no peito agora.

- Relaxa, Shigeaki-chan. Um dia te conto meu segredo, tá? Então é melhor não morrer de susto até lá. E além disso, a tia Hinohara ficaria tão triste se perdesse o precioso filhinho dela.

Kai passava a mão aberta em círculos na cabeça de Shigeaki enquanto  simulava uma expressão de tristeza.

- Tá! Tá! Senta ai. E não envolva minha mãe em suas sandices! Diz o medico afastando Saburo e indo para sua mesa visivelmente incomodado.

- Porque está tão irritado, hein? Questiona Saburo ao médico. - Eu que deveria tá. Você bateu no meu braço com o esfregam!

Os dois sentam na mesa do consultório e Shigeaki começa a falar. – Apesar de não ser a minha especialidade, pedi a um amigo especialista que avaliasse os seus últimos exames. O médico tirava alguns papéis de dentro de um envelope e os ajeitava na mesa enquanto falava com Saburo.

- E Kai, as notícias que tenho para te dar não são nada animadoras. Seu quadro cardíaco tem piorado bastante. Como médico e como amigo, meu pedido sincero seria que você se interne o quanto antes.

Kai olhava para o amigo com um sorriso forçado no rosto e um olhar perdido. Tão perdido que quase não ouvia as palavras do médico.

– Kai! Kai? Está me ouvindo Kai?!

- Sim! Sim. Estou sim. Ah, vamos lá Shigeaki-chan! Só me receite alguns medicamentos como você sempre faz que eu fico bem. Saburo batia na mesa com o indicado enquanto o médico o observava com um olhar de preocupação.

O homem respira fundo e então continua. – Ok, Kai. Sei que seria inútil tentar te convencer mesmo, mas já te aviso que não adiantará de nada você continuar tomando os medicamentos levando a vida que leva. O homem escreve o nome dos medicamentos em uma receita e entrega para Kai.

- Não precisa se preocupar, Shigeaki-chan. Você sabe melhor do que ninguém que a lógica nunca funcionou comigo. Né? Saburo passava o polegar direito no nariz e sorria para o amigo.

- Sei... Claro que sei. O homem cruza os braços e continua falando. - A propósito Kai. Sabe aquele cobertor que você usou antes?

– Sim. O que tem ele? Questiona Saburo ao médico.

Shigeaki então fala cochichando para o rapaz. – Era lixo hospitalar. Da ala dos idosos. Saburo faz uma cara de nojo e os dois começam a rir juntos.

Antes de Kai deixar a sala, o médico chama a sua atenção. - Kai! O Sr. Ikeda... Ele já sabe?

Saburo começa a rir ironicamente da pergunta de Shigeaki, mas logo em seguida responde ao médico com uma certeza no olhar.

– Nunca vai saber!

- QUANDO PRETENDIA ME CONTAR ISSO?!!!

A voz imponente do homem ecoava pela sala que tinha um enorme banner com o símbolo da família Ikeda em uma das paredes.

O homem levanta do chão de frente para o banner e caminha em direção a Kai Saburo que estava sentado no chão de cabeça baixa. O homem fica de pé de frente para o rapaz e em seguida o levanta pelos ombros.

- Olhe para mim Kai. O rapaz reluta e o homem repete com a voz mais firme. - Olhe para mim Kai. Agora! 

Saburo decide levantar a cabeça para olhar nos olhos do homem que estava a sua frente, mas antes mesmo de conseguir fazer isso, leva uma tapa forte em seu rosto. O rapaz fica em choque olhando para o lado por alguns segundos, mas logo em seguida o homem o abraça.

- Por que não me disse antes meu filho.... Eu poderia ter ajudado você.... Como ajudei a sua mãe.... O homem tinha uma voz chorosa e sincera, o que fez Kai retribuir o abraço também.

- Eu só não queria preocupar... o senhor, senhor Ikeda. Disse Kai com o olhar triste enquanto abraçava o homem.

Minutos depois, os dois caminhavam no grande jardim da propriedade da família Ikeda enquanto conversavam. O homem andava ao lado de Saburo com uma das mãos em seu ombro enquanto mostrava as árvores e gargalhava para o rapaz.

- Sabe filho. Sua mãe foi como uma irmã para mim. Quando ela faleceu, jurei para mim mesmo que cuidaria de você como se fosse do meu sangue. Por esse motivo, hesitei tanto ao deixá-lo entrar para a Yakuza. Achei que se fizesse isso estaria manchando a memória dela. O homem falava com Kai balançando o dedo indicador para os lados.

- Não é culpa sua Sr. Ikeda. Saburo que tinha uma expressão um pouco melhor no rosto tentava aliviar a tensão do homem.

- É... É sim. É minha culpa por não ter percebido antes que o meu filho estava passando por tudo isso calado e eu não notava, mas mesmo sendo tarde tentarei corrigir o meu erro. O homem solta o ombro de Saburo e caminha alguns passos à frente do rapaz.

Com as mãos para trás, olhando para o céu, o homem decide falar. – O que acha da praia, Kai? Devido ao trabalho, faz muito tempo que eu não vou.

Saburo franzia a sobrancelha enquanto prestava a atenção nas palavras de Ikeda. – Sol, praia, surf e biquínis. Sim, isso é bom... muito bom. O homem respira um pouco e então se vira para o rapaz antes de falar.

– Você está fora, Kai!

Kai não querendo acreditar se aproxima um pouco de Ikeda. – Mas... Mas... Sr. Ikeda... O senhor não pode fazer isso! Saburo balançava a cabeça negativamente enquanto o homem permanecia parado no mesmo lugar com as mãos para trás.

- Não só posso como vou. Disse o homem olhando para o rosto aflito de Saburo e caminhando em sua direção.

O homem coloca novamente a mão no ombro do rapaz e começa a caminhar ao seu lado como antes. - Escute meu filho. Não encare isso como uma expulsão. Eu quero apenas que você saia e cuide de sua saúde e quando estiver melhor, decida se quer realmente voltar ou não para a Yakuza. Ikeda falava com Saburo gesticulando com a mão.

Ao ver que o homem tinha parado de falar, Saburo se afasta dele e vai para a sua frente. – Mas Sr. Ikeda. Estou na cola do bastardo do Marumo a semanas. Ikeda cruza os braços enquanto Saburo fala. – E tenho certeza que hoje iria pegá-lo. Meu informante já me passou tudinho.

- Por favor, senhor Ikeda. Kai colocava as mãos em forma de reza. – É pela honra dos Yakuzas. O homem ergue a sobrancelha e começa a gargalhar.

- Hahahaha... Honra de Yakuza é?  O homem continuava rindo. - Tudo bem Kai, mas leve Shimizu com você. Não é um pedido.

- Muito obrigado senhor Ikeda. Saburo abraça o homem e corre em direção à saída, mas para e retorna para falar novamente com ele. – Senhor Ikeda, posso te fazer uma pergunta antes de ir? Ikeda consente com a cabeça e Kai prossegue.

– Como o senhor soube... Da minha doença?

O homem encara Saburo por alguns segundos e então decide falar. – Sou da Yakuza há muitos anos Kai. Possuo uma complexa e sofisticada rede de contatos por toda parte. Agora já pode ir pegar aquele porco do Marumo.

Saburo balança a cabeça com um sorriso no rosto e sai correndo dali, deixando o homem parado no mesmo lugar. Logo em seguida o homem sente seu celular vibrar e o atende.

- Alô?  Ah, que surpresa!

- Sim, sim... Eu adorei conhecê-la e conversar bastante com você ontem.

- O quê disse? Amanhã à noite? Jogar pachinko no clube? E vai levar o seu filho?

- Claro que sim! Pode levar Hahaha... O homem gargalhava segurando o celular na orelha. - As crianças são uma benção divina.

- Então nos vemos amanhã, senhora Hinohara. 

Do lado de fora do aeroporto, do outro lado da rua, um carro preto permanecia estacionado perto de uma van cinza. Dentro do carro estavam duas figuras de terno. De um lado do banco estava Kai Saburo e do outro Hiroshi Shimizu. Ambos atentos e observando os arredores do local.

- Eu tô com fome Saburo-san. Tem certeza que o Marumo vai aparecer aqui hoje? O rapaz questionava Kai com as mãos na barriga.

- É claro que vai Shimizu-chan. Só continue vigiando. E quando o pegarmos, o Ramen será por minha conta... Responde Saburo olhando para Shimizu com um sorriso cheio de dentes no rosto.

- Sério mesmo, Saburo-san? O garoto sorri e em seguida pega um binóculos no banco detrás do veículo e passa a usá-lo para observar as redondezas do aeroporto.

* Dentro do aeroporto várias pessoas andavam para cima e para baixo com suas malas pesadas de rodinhas. Desembarcando e embarcando em seus voos. No meio delas, um misterioso homem de capuz caminhava segurando uma maleta cor prata contra o peito.

Shimizu observava os arredores do aeroporto quando avista um homem de cabelos grisalhos saindo de um Tax. Prontamente Shimizu pede a foto de Marumo Satoshi a Kai e compara.

- É ele? Pergunta Kai a Shimizu que o entrega o binóculo.

- O próprio. Responde Shimizu com um sorriso no rosto.

* O homem de capuz apressa o passo ao perceber que estava sendo seguido por três indivíduos que usavam um terno cinza e óculos escuros.

Marumo paga o taxista em dinheiro vivo, arruma sua bolsa e em seguida caminha em direção à entrada do aeroporto, mas antes mesmo de entrar ele escuta uma voz.

- Marumo Satoshi?! É o senhor mesmo? O homem se vira para olhar quem era e se depara com Kai Saburo de óculos escuros.

– Ah, deixe eu me apresentar. Meu nome é Kai Saburo, sou do serviço sanitário de Chisai. Saburo retira um crachá falso do bolso do terno e mostra ao homem.

- Vim a sua procura a pedido de seus vizinhos. Eles relataram sentir um mau cheiro forte vindo do seu apartamento. Então, por favor, queira me acompanhar. Saburo se coloca ao lado do homem e o segura pelos ombros o retirando de perto da entrada.

- Serviço sanitário... ? Mas eu... Eu não... Diz o homem confuso olhando para a entrada enquanto era arrastado até o carro por Kai, onde Shimizu os esperava.

* Desviando e esbarrando em algumas pessoas em seu caminho. O misterioso homem continuava visando a saída do aeroporto para conseguir escapar.

Saburo gira Marumo e o segura pelo colarinho e em seguida pede para que Shimizu abra o porta malas do veículo. E sem pensar duas vezes o atiram lá dentro. O homem confuso dentro do porta malas olha para Shimizu e para Kai que estavam em pé na sua frente.

- Vocês não são do serviço sanitário! São homens de Ikeda!!! Grita Marumo apontando o dedo para ambos com um olhar assustado.

– Você está certo, Marumo-chan. Não somos do serviço sanitário, somos melhores que eles! Saburo olhava para o homem com um sorriso no rosto.

- Pois o tipo de lixo que recolhemos é o PIOR tipo, e esse tipo... Eles não recolhem! Saburo fecha com força o porta malas que bate na cabeça do homem fazendo-o desmaiar lá dentro.

* O homem então avista um carrinho com várias malas. E sem pensar duas vezes, derruba-o no chão para atrasar os seus perseguidores e chegar até a saída.

Saburo guarda os óculos no bolso do terno e abre a porta do carro, mas antes de entrar, sente uma forte dor no peito, o que o faz se escorar no veículo. Ao perceber que Shimizu não tinha notado, Kai respira fundo e simplesmente entra no carro.

Shimizu que ainda não tinha entrado no carro, fica na janela. - Saburo-san, vou comprar café gelado na máquina. Você quer? Shimizu tinha uma  expressão de ansiedade no rosto.

- Sim... Kai se ajeita na cadeira do carro. - Só não demora muito, tá? Shimizu faz que sim com a cabeça e sai correndo dali.

Saburo fecha o vidro do carro e mete a mão no bolso da calça para pegar o remédio que Shigeaki o tinha receitado pela manhã, mas ao conseguir tirá-lo, a tabela com os comprimidos cai no chão do veículo. Kai se abaixa para pegá-los e acaba esbarrando no porta luvas que se abre.

* O homem chega até a saída do aeroporto. Olha para trás e avista os três incansáveis homens que ainda o seguiam.

Da porta luvas cai a revista dobrada que Rena havia dado a Saburo na noite anterior. Kai pega a revista que tinha caído no banco ao seu lado e se lembra das palavras da garota.

                                        - Fique com ela. Talvez ela seja a inspiração que você precisa.

- Talvez seja mesmo dessa inspiração que eu preciso agora, Rena-chan. Dizia Kai para si mesmo enquanto folheava a revista. – Já sei! Vou mandar uma mensagem prá ela.

Kai coloca a revista aberta em seu colo e mordendo a língua pega o celular no bolso do terno, mas ao começar a digitar com as duas mãos ele percebe um estranho movimento fora do veículo e decide virar o seu rosto para olhar.

Do lado de fora, três homens rendiam um homem de capuz. O empurrando contra a van cinza que estava estacionada próxima ao carro onde Saburo os observava. Os homens usavam ternos cinzas e óculos escuros e agiam de forma agressiva contra o homem que parecia proteger mais a maleta do que a si mesmo.

- Três contra um... Isso não é justo. Diz Kai franzindo a sobrancelha enquanto olhava a cena.

Enquanto os outros dois falavam ao telefone. Um dos homens que parecia mais irritado, se aproxima do indivíduo de capuz e arranca o capuz de sua cabeça. Revelando seu rosto. 

- É só um velhote. Diz Kai com um sorriso esnobe no rosto olhando para o homem. – Seja lá o que você fez velhote. Não é problema meu.

Saburo volta a procurar o contato de Rena, quando a imagem embaçada na revista aberta em seu colo atrás do celular, começa a ganhar nitidez. Kai coloca o celular no banco do lado e pega a revista a levando próxima ao rosto e estranhando algo. 

Saburo olha para a imagem do homem na revista e devagar olha novamente para fora do veículo. Mais especificamente para o homem que antes usava um capuz. Logo em seguida volta a olhar a imagem na revista sem acreditar que se tratava da mesma pessoa.

- JESUS!!!!

Os homens olham para o lado procurando de onde tinham ouvido o estranho grito. Olham na direção do carro onde Saburo estava, mas não veem ninguém dentro e então continuam com a abordagem do professor.

- Ufaaa.... Quase que eles me viram. Saburo estava agachado no chão do carro com uma expressão de alívio no rosto.

Kai decide colocar apenas os olhos na janela para evitar ser visto. Um dos homens empurra o professor contra a porta da van que se abre e em seguida o jogam lá dentro.

- O que esses palhaços estão fazendo com a minha inspiração? Cochicha Kai escondido atrás da porta observando a cena.

Os homens então decidem entrar na van e saírem dali. – É, tenho que admitir que esses caras tem classe. Diz Saburo enquanto liga o carro para segui-los. 

Não muito longe dali. - Saburo-san não vai acreditar na sorte que eu tenho. Dizia o garoto Shimizu andando com várias caixinhas de bebidas nos braços e sorrindo.

A van entra no estacionamento do aeroporto seguida por Saburo que vinha logo atrás em seu carro. Os homens estacionam o veículo mais a frente enquanto que Kai dá a volta e estaciona o carro próximo a saída.

Os três homens descem do veículo e em seguida um deles abre a porta atrás da van e joga o professor Sakaki para fora. O professor se arrasta de costas até a parede do estacionamento e questiona seus sequestradores. - Quem são vocês?! O quê vocês querem comigo?! O professor que ainda segurava a maleta tinha uma expressão amedrontada no rosto.

Um dos homens passa a frente de seus colegas e se agacha de cócoras próximo ao assustado professor. – Professor Sakaki. Quem nós somos não importa para o senhor. O homem olha para o teto do estacionamento e olha novamente para Sakaki. – E o que queremos?! Bem, talvez isso importe sim. Sakaki arregala os olhos para o homem enquanto balança a cabeça negativamente.

Kai observava tudo de fora do carro pelo retrovisor de uma moto estacionada bem ali. – Quem são esses caras...  Yakuzas? O rapaz coloca a mão no queixo e logo em seguida balança a cabeça. – Nãooo....  são muito chiques para serem Yakuzas. Melhor eu não me arriscar. Kai pega o capacete que estava preto em cima da mota e sai.

O homem agachado tenta arrancar a maleta das mãos do professor que resiste e não larga. Já cansado de tentar, o sujeito se levanta e chuta com força o rosto de Sakaki o fazendo cair para o lado com as mãos na boca, mas antes mesmo do homem se abaixar para pegar a mala que havia caído no chão, todos escutam uma voz e se viram para olhar quem era. - Oh.... Com licença!!

O homem que já estava com a mão na alça da mala, a solta e toma a frente dos outros dois. – Que droga é você?

Saburo que usava um capacete preto com a viseira baixa, olha para o homem que o questionou e começa a falar. - Bem, isso eu não posso te dizer, mas o que posso contar para você amigo é que respeito MUITO o seu trabalho. Kai abria os braços como se cumprimentasse os três indivíduos. – Só que... Aparentemente o destino quer que eu surre vocês três para salvar aquele cara bem ali. Saburo apontava para o professor Sakaki que o olhava confuso.

- Hahahaha... O homem rir e em seguida os outros riem também. – Então o “destino” foi quem te mandou aqui?  Pois da próxima vez, mande-o marcar horário!

O homem levanta o braço e os outros dois que estavam logo atrás dele, cada um de um lado, colocam as mãos dentro de seus ternos cinza e puxam porretes.

- Peguem esse palhaço! Diz o homem para os dois comparsas que passam a sua frente e caminham na direção de Kai.

Kai fica em guarda observando os dois homens virem em sua direção. Um dos homens avança contra ele com o braço levantado segurando o porrete. Kai defende o braço do sujeito que arregala os olhos parecendo não acreditar, e em seguida desfere um soco tão brutal que faz o homem capotar três vezes antes de beijar o chão do estacionamento.

O outro homem olhando para o seu companheiro desacordado no chão, largar o porrete e parte para cima de Kai com as mãos nuas. Saburo sem pensar duas vezes rola no chão e apanha o objeto que homem havia largado, e quando o sujeito se vira, ele o acerta no queixo fazendo-o dar uma cambalhota no ar antes de cair se contorcendo no chão.

- Nossa! Essa deve ter doido. Diz Kai sorrindo para o indivíduo no chão com as mãos no queixo rolando de dor.

O outro homem que estava próximo ao professor, tinha uma expressão de ira em seu rosto. Ele enfia a mão no terno e em seguida puxa um porrete como o dos outros. Kai olha para o homem e começa a caminhar em sua direção. – Cara, isso não vai funcionar. Saburo larga o objeto e abre os braços zombando do sujeito que já estava em guarda.

- Você se acha muito esperto, não é? Mas você teve sorte, só isso. O indivíduo que estava na frente do professor avança contra Kai.

Com o braço levantado visando acertá-lo, ele desfere o golpe contra Kai, mas o rapaz segura o porrete com a mão antes mesmo de ser atingido. – Falei que não iria funcionar... Kai para de falar ao perceber um sorriso no rosto do homem. – Te peguei.

O homem aperta o botão no objeto fazendo Saburo levar uma forte descarga elétrica e se contorcer todo. Ele consegue largar o objeto, mas antes mesmo de se afastar, o sujeito desfere um chute na região de seu peito o lançando para longe até cair no chão. O homem então decide caminhar na direção de Kai, agacha-se de cócoras próximo a ele e em seguida começa a falar.

- Parece que o destino não estava mesmo do seu lado. Diz o homem com um ar de riso na voz olhando para Kai de bruços no chão.

Saburo levanta o rosto com dificuldade e em seguida fala. – Você.... tem certeza? ~ O homem percebe uma sombra que estava sendo projetada de alguém em pé atrás dele, mas antes mesmo de conseguir olhar a quem pertencia ele leva uma forte pancada com a maleta no rosto que o atira inconsciente no chão.

- Isso foi pelo chute, seu idiota! Diz a voz ríspida do professor Sakaki segurando a maleta em pé na frente de Saburo.

Saburo tenta se levantar com dificuldades, mas o professor Sakaki o ajuda colocando o ombro para que ele pudesse se apoiar, e em seguida questiona o misterioso homem de capacete.

- Quem é você, rapaz? Sakaki olhava para frente enquanto caminhava devagar com Kai.

Saburo mete a mão devagar no bolso de seu terno e retira um crachá que entrega ao professor que o ler.

“SERVIÇO SANITÁRIO, KAI SABURO”

 

EPISODIO 01

- TIRANDO FERIAS -


~Extra~

Em uma sala parcialmente escura, uma porta se abre e por ela atravessa uma elegante mulher que se senta no chão com sua bolsa ao lado. Logo mais a frente havia um homem tatuado sem camisa de costas no escuro. A moça se curva no chão por alguns segundos e ao levantar o rosto revela-se ser Sakurako Enoshima.

Percebendo a presença da mulher ali o homem decide falar. - Srta. Enoshima. A que devo a honra de sua visita? Diz a voz imponente do homem tatuado à sua frente.

Sakurako respira e então prossegue.

- Quero a cabeça de Kai Saburo em uma bandeja!!!


CAST

Kento Yamazaki como Kai Saburo

Ayami Nakajo como Sakurako Enoshima

Ken Watanabe como Professor Sakaki

Hamabe Minami como Rena Matsuri

Suda Masaki como Hayato Mori

Tadanobu Asano como Akira Matsuri

Mayu Hotta como Haruka Saruhashi

Koichi Sato como Senhor Ikeda

Osamu Mukai como Shigeaki Hinohara

Keisuke Kaminaga como Hiroshi Shimizu


Se gostar da historia comente e compartilhe com seus amigos.

 

 

By Henrique Campos (HR)



Comentários

  1. E cá estou eu me apresentando pra comentar esse começo muito, mas muito bacana de uma saga que eu espero que perdure por muitos episodios ao longo do tempo.

    Bom, eu curti o herói, um pouco brincalhão as vezes, mas eu tive a impressão que ele faz isso única e exclusivamente pra conseguir levar de boa a sua condição de saúde que ja está lhe delimitando o tempo de vida. A trama toda ainda está bem oculta, mas conhecer os personagens que darão vida a ela, é a graça de todo esse capítulo.

    Durante a leitura eu fiquei me perguntando com os caminhos do Kai e do Professos Sakaki se cruzariam, e não é que você deu um jeito nisso rsrs.

    Ponto pra você por conseguir me manter atento a todo o texto, mesmo o texto não tendo lutas de heróis, Henshins, explosões, etc.

    Cara, eu estou muito animado pra mais um inicio de saga na tokunet, que eu espero que venha pra ficar, assim como tantas outras como NeoChangeman, Force Five, Jiraya R e outras maravilhas que eu ja li por ai. Grande Abraço!!

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    1. Fala Rodrigão. Agradeço demais a força que tu tem me dado nesse comecinho, é super importante pra mim poder contar com teu apoio. Tua fanfic o Force Five foi uma escola pra mim e espero que tu tenha curtido a pequena homenagem sutil que fiz a ela.

      Espero um dia conseguir chegar a níveis de fanfics já consagradas na toku net como as que tu citou e se tu curtiu esse "episodio 1" pode esperar que vem muita coisa bacana pela frente.

      A jornada do Matsuri tá só começando.

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  2. Olá! Meu amigo Rodrigo falou desse título e cá estou.
    Gostei muito desse início da história, apresentou muito bem os personagens, algo difícil quando são tantos, mas de imediato todos se tornaram muito tridimensionais.
    Um ponto extra por criar uma trama bem amarrada que mantém a atenção mesmo tendo poucas cenas de ação que, aliás, também foram muito bem escritas.
    Vi poucos errinhos de digitação, que podem ser corrigidos com uma revisão mais caprichada, mas em nada atrapalharam o texto.
    Gostei e pretendo seguir.
    Parabéns!

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    1. Grande Noberto. Que honra poder contar com um gigante das fics prestigiando o meu humilde trabalho, agradeço demais e que bom que curtiu a leitura.

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